Canção para Gal
A minha vida sem Gal, é como um rio seco, sem a nascente,
sem os seres viventes. É sentar à mesa e sentir um vazio com gosto de café sem bolo, e sem repartir o pão.
A minha vida sem Gal é como não ter uma caixinha de bombons, com sabores de solidariedade, de cuidados, de amor, de risadas , companheirismo, doação e proteção. A tua humildade, herdada da nossa mãe, te fez grande, e tua generosidade te fez imensa.
É sentir falta das reclamações mútuas,das diferenças e das impaciências tolas e das muitas afinidades.
A minha vida sem Gal é caminhar cambaleando, meio perdida,
tropeçando e tentando alcançar o que o vento levou para longe , como uma criança que tenta alcançar a pipa quando o cordão se parte.
A minha vida sem Gal é ouvir uma música e sentir-me surda; é não sentir a mão acolhedora que só faz o bem, o acolhimento e a palavra calma, a cada aflição minha.
A minha vida sem Gal é como escrever uma poesia melancólica, com inspiração da saudade cortante, da tristeza constante,
e sem a alegria de gestar versos belos como a alma e o sorriso dela.
É como ver um jardim e não plantar flores; é como ver os pássaros e não ouvir o canto.
É lembrar da sua presença inseparável desde criança, simples e marcante, que mesmo por alguns instantes, já sentia-me protegida .
A minha vida sem minha irmã Gal é a certeza que há vidas que se entrelaçam assim que nascem e, que podem significar toda uma eternidade na memória do coração.
A minha vida sem Gal é viver no refúgio do meu pranto, pelo lamento do instante que perdi de não vê-la partir e não segurar sua mão frágil, magra e doadora.
Não vi o voo da borboleta !
Para a minha irmã Gal, companheira de toda uma vida.