A surpresa
-Meu Deus! Essa notícia me pegou de surpresa!
-Pois é meu amor, você vai ser pai, exclamou Sheila, olhando toda orgulhosa para a barriga que em nada se pronunciava, a não ser os pneuzinhos normais de sempre.
Com lágrimas nos olhos de tanta emoção, pensei como aquilo estava acontecendo, pois, segundo os médicos, por uma questão genética, eu jamais poderia ser pai a não ser se fosse por adoção. Agora, com essa notícia de supetão, para mim que nunca tinha confessado esse problema congênito para minha mulher, não pude deixar de imaginar duas coisas: Ou aconteceu um milagre divino ou eu sou um grande corno!
Não pude esconder no rosto minha reação, em razão do estranho pensamento que me veio à mente. Uma vez que, como não sou muito religioso e minhas crenças são limitadas, a segunda hipótese poderia ser a mais provável.
-Que foi Mário? Que cara esquisita é essa?
-Nada amor! É pura felicidade, respondi. Mas, dentro de mim existia um grande conflito com relação à dura verdade sobre minha improvável paternidade. Enquanto ela sorria com o resultado do exame nas mãos e telefonava para as amigas, eu não sabia se contava meu drama e complicaria tudo com minhas dúvidas e ainda tomava uma bronca por ter guardado esse segredo, ou ficava calado e ir no dia seguinte fazer, sorrateiramente, um espermograma, tirando assim todos os grilos da minha cabeça, correndo o perigo de substituir estes pequenos insetos por um lindo e grande par de chifres.
Dei uma desculpa que precisava sair a negócios, mas Sheila nem prestou muito atenção a minha desculpa, pois estava transmitindo a notícia para sua amiga Jamille, noiva do meu primo Raffael.
Peguei o carro e fui direto para casa do meu amigo Luiz Antônio, médico ginecologista, para dividir o meu segredo e pedir uma opinião de como proceder. Chegando lá fui logo abrindo o jogo e contando detalhadamente minha odisseia!
-Calma Luiz! Às vezes acontece esses problemas se corrigirem inesperadamente e sem explicações científicas. Vá batendo uma enquanto eu preparo o microscópio para fazer uma rápida pesquisa e verificar se seus espermatozoides saem vivos e sadios na ejaculação.
-Você acha que vou ter tesão pra isso do jeito que estou?
-Porra, cara! “Se você quer que o pinto endureça, pegue no meio e sacuda a cabeça”. Essa teoria popular nunca falha.
Peguei o bruto todo encolhido e cabisbaixo, talvez por estar entendendo a situação e comecei a sacudir, até que ficou meio pururuca, e, com a mão esquerda para parecer que era outra pessoa que estava batendo (poucas pessoas conseguem dar o ritmo certo), e depois de algum sacrifício, algumas gotinhas espirraram no recipiente que ele havia me dado.
Corri para a outra sala onde Luiz estava e entreguei aquele material, não tirando os olhos de cima, para ver se, mesmo a olho nu, via algum sacana se mexendo na lamina. Não detectei porra nenhuma. Aliás, só a própria porra!
Depois de um rápido e cuidadoso exame, ele olhou pra mim com um olhar incógnito, balançou a cabeça e disse: Estão vivos, cacete! Você não tem mais nada e pode ter um batalhão de crianças!
Não pude me conter e dei o maior beijo no rosto de Luiz e saí picado voltando pra casa, pois o meu desejo era encher Sheila de beijos e curtir o nosso futuro baby.
-Alô! É Sheila? Consegui contornar a sua situação como você me pediu. Fiz o exame, dei um veredicto falso e ele saiu daqui feliz da vida. Agora é com você e o pai do menino. Nunca mais me peça um favor desses! Para que você tenha uma posição correta do estado genético dele, digo-lhe que seus espermatozoides são todos tetraplégicos e não conseguiriam atingir um ovário nem tomando uma carona com o Schumaker. Agora reze para que ele queira apenas esse filho único, porque se aparecer um irmãozinho eu estou fora.