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Os Reflexos Jurídicos da Independência do Brasil: A Construção de um Novo Sistema Jurídico

A consolidação da soberania e a criação de uma estrutura jurídica autônoma após 1822

A Independência do Brasil, proclamada em 7 de setembro de 1822, não apenas representou a ruptura política com Portugal, mas também deu início à construção de um sistema jurídico próprio, capaz de sustentar a soberania recém-conquistada. A partir desse marco, o Brasil se viu diante do desafio de criar um ordenamento jurídico que refletisse suas novas aspirações como nação independente, e os reflexos desse processo reverberam até hoje.

O período pós-independência foi marcado pela necessidade de estabelecer uma estrutura legal que consolidasse a autonomia do país. Como destaca o advogado Marco Túlio Elias Alves, advogado e autor do livro Primeiros Passos para Entender a História do Direito, “a independência trouxe consigo a responsabilidade de criar leis que não apenas garantissem a liberdade conquistada, mas também regulassem a vida em uma nação que precisava se afirmar tanto internamente quanto no cenário internacional”.

A primeira grande consequência jurídica da independência foi a criação da Constituição de 1824, a primeira do Brasil, que estabeleceu as bases do sistema legal e político do país. Influenciada pelas ideias liberais da época, a Constituição criou um Estado monárquico constitucional, centralizando o poder na figura do imperador, mas com a garantia de direitos individuais aos cidadãos. Marco Túlio ressalta que “essa Constituição, apesar de suas limitações, foi fundamental para legitimar o novo Estado e para estabelecer um arcabouço jurídico que seria gradualmente aprimorado”.

Outro reflexo importante foi a necessidade de adaptar o sistema de justiça a uma nova realidade. Com a separação de Portugal, o Brasil precisou organizar seus próprios tribunais e sistemas de julgamento. Foram criadas instituições judiciais que, embora inspiradas no modelo português, começaram a se desenvolver de forma independente. Esse processo de nacionalização do judiciário foi crucial para a consolidação da soberania, permitindo que o Brasil resolvesse internamente suas questões legais sem interferência externa.

A independência também trouxe desafios no campo dos direitos civis. A nova nação precisava lidar com questões sociais complexas, como a escravidão, que persistia como uma mancha na sociedade brasileira. Embora a Constituição de 1824 tenha garantido certos direitos individuais, ela não abordou diretamente a questão da escravidão, que só seria enfrentada décadas depois. O advogado aponta que “a independência foi um primeiro passo, mas a construção de um Brasil justo e igualitário exigiria lutas subsequentes para estender os direitos a todos os seus cidadãos, sem distinção”.

No âmbito do direito internacional, a independência do Brasil exigiu o reconhecimento de sua soberania pelas demais nações. O processo de reconhecimento foi marcado por negociações diplomáticas complexas e pelo estabelecimento de tratados que garantiram a autonomia do país. A assinatura do Tratado de Paz e Aliança com Portugal, em 1825, foi um passo importante nesse sentido, formalizando a independência e estabelecendo o Brasil como uma entidade legal reconhecida no cenário internacional.

Além disso, a independência impulsionou o desenvolvimento do direito comercial e marítimo no Brasil. Como um país que buscava expandir suas relações comerciais com outras nações, o Brasil precisou criar um sistema jurídico que regulamentasse essas atividades. A legislação comercial começou a se desenvolver, abrindo caminho para o crescimento econômico e para a inserção do Brasil no comércio internacional.

A independência também teve impactos no campo da educação jurídica. Com a necessidade de formar profissionais capazes de lidar com o novo sistema legal, surgiram os primeiros cursos de direito no Brasil, em Olinda e São Paulo, em 1827. Essas instituições se tornaram centros de formação de juristas e políticos que moldariam o futuro do país. Marco Túlio observa que “a criação desses cursos foi essencial para o desenvolvimento de um pensamento jurídico brasileiro autônomo, alinhado com as necessidades e desafios da nova nação”.

Por fim, a independência marcou o início de um processo de construção de uma identidade jurídica nacional. A separação de Portugal permitiu que o Brasil começasse a desenvolver suas próprias tradições jurídicas, embora ainda influenciado pelo modelo europeu. Esse processo de construção de uma identidade jurídica continua até hoje, refletindo a evolução do país como uma nação soberana e independente.

Os reflexos jurídicos da independência do Brasil foram vastos e variados, abrangendo desde a criação de uma constituição própria até o desenvolvimento de um sistema legal autônomo. O trabalho de figuras como José Bonifácio e o impacto duradouro de eventos como a proclamação da independência demonstram como o direito foi e continua a ser uma ferramenta fundamental na construção e afirmação da soberania nacional.

Por Carol Santos