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Diagnóstico das residências universitárias

As fortes chuvas que têm castigado Salvador, atingiram também as residências universitárias da Universidade Federal da Bahia.

Fui superintendente Estudantil da UFBA
no período de 1984 a 1988, na gestão do
Reitor Germano Tabacof, e já aquela época, que já são passados mais de vinte anos, as dificuldades para manutenção das casas eram grandes.

A UFBA possui três residências Universitárias, R I, R II e R III.

A R I, localizada em um belo casarão no Corredor da Vitória, que tem inclusive acesso e vista para a maravilhosa Baia de Todos os Santos.

A R II, situada no largo da Vitoria, junto à igreja de Nossa Senhora da Vitoria.
A R III, localizada em um belíssimo casarão na Rua João das Botas no bairro da Canela. Portanto, são três imóveis com excelentes localizações, mas que não foram projetados para abrigar grande números de pessoas.

As residências Universitárias, caracterizam-se no âmbito das Universidades nordestinas, pelos seguintes aspectos:

Não expansão do numero de vagas apesar do crescimento da demanda.

Funcionamento, na maioria dos casos, em prédios comuns, não projetados especificamente para abrigar grandes grupos.
Manutenção de instalações e equipamentos sob inteira responsabilidade das universidades, predominantemente as custas de recursos orçamentais próprios.

Administração das casas dividida, da forma pouco clara, entre os residentes e a administração central das universidades (através das pró-reitorias específicas).
Clientela de estudante carentes, oriundos da zona rural dos respectivos e de outros estados.

Dependência estrita da clientela em relação aos Restaurantes Universitários, que se constituem na única opção para alimentação e, portanto assumem papel vital no que diz respeito às chances do residente concluir seu curso de graduação.

Tais características anteriormente descritas conduzem normalmente aos seguintes problemas: desconfiança, por parte dos residentes, em relação à administração central das Universidades, cujo interesse em melhorar a assistência estudantil não é reconhecido.

Tal postura torna difícil o desenvolvimento da participação estudantil e gera um clima próprio à hostilidade por parte dos residentes, o que se constitui em terreno fértil para a indisciplina e a confrontação; tais atitudes por sua vez geram medidas disciplinares (freqüentemente ineficaz) que realimentam a desconfiança e a hostilidade, fechando o circulo.

Dificuldade do desenvolvimento de um espírito comunitário necessário à harmonia e tranqüilidade da casa, o que contribui para o stress emocional do residente.

Dificuldades de rendimento acadêmico de forma bastante generalizada, em muitos casos devido a falhas na preparação escolar pré-universitária. Tal problema pode gerar o desencanto pelo curso, o que se constitui no primeiro passo rumo à condição de “estudantes profissional” interessado, por falta absoluta de perspectivas, em ampliar ao maximo sua permanência na moradia estudantil.

Acrescente-se a isto o fato de as residências Universitárias acharem-se em precaríssimas condições de manutenção, algumas já apresentando riscos à moradia. Para tal nível de deterioração contribuem entre outros os seguintes fatores:

Carência de recursos específicos para tal fim no orçamento das Universidades.

Aceleração do desgaste em função da inadequação da maioria dos prédios ao fim a estes atribuído.

Pouco envolvimento dos residentes no esforço de conservação das respectivas moradias e ausência de normas atualizadas que assegurem o seu funcionamento.
Sei da importância da manutenção das residências, pois elas abrigaram ao longo desses anos, alunos carentes das mais diversas áreas, principalmente os oriundos do interior do Estado.

Por lá já passaram uma infinidade de acadêmicos, que hoje, graças a sua acolhida, estão inseridos nas mais diversas classes sociais e econômicas do pais, exercendo cargos políticos, empresários, médicos, advogados, artistas, professores, dentre outras atividades, temos até donos de Faculdades.

Se não fossem as velhas residências, seguramente o futuro dessas pessoas seria outro.

Entendo que o melhor seria construir novas residências, com acomodações decentes, que atendessem as necessidades dos alunos, terminando com os riscos de acidentes, pois os velhos casarões já necessitavam de reformas físicas e estruturais a cerca de vinte anos atrás.