Artigo

O Nacional e o local

Dia de quarta, em uma parada para almoço fico assistindo um programa de esportes, mas precisamente de futebol. Um grupo de pessoas fica ali discutindo os acontecimentos do dia, ou semana, que ocorreram neste que é o esporte mais popular do Brasil. A rede é nacional e o programa também. No entanto, durante o tempo inteiro que ele dura – mais de trinta minutos – a fala dos quatro debatedores situa-se, na maioria das vezes sobre times de São Paulo. Ou melhor, sobre um único time, cujo apelido termina em “ão”.

Não suporto esse tipo de programa, na maioria das vezes os comentários expressam apenas opiniões e não trazem nenhuma informação significativa para o telespectador.

Ainda assim, a pobreza do debate e o colóquio rondando apenas um time me fez meditar sobre a noção de local e nacional.

Como construção histórica um país, ou nação, tem um momento de existência. No caso brasileiro o Estado nacional forma-se a partir de 1808 com a vinda da Família Real. Em 1822, com nossa separação de Portugal, iniciase o processo que iria construir a identidade brasileira.

Tal fato foi efetuado tendo como pólo gerador a cidade do Rio de Janeiro, local da Corte na época e capital do Brasil.

No fim do século XIX, São Paulo, emerge como o mais importante estado do país e sua capital como a mais dinâmica.

No século XX tal fato se consolida. Daí em diante, essa urbis mais o Rio de Janeiro iria centralizar os ditames do país. Assim, aquilo que acontecia nessa duas cidades era considerado nacional, nas demais, apenas local.

Essa constatação traz em seu bojo um conjunto de símbolos e valores que servem para constituição de um domínio desses centros, e de suas elites, sobre as demais regiões do país.

Tudo que ali acontece é propagandeado para todo o Brasil e transmitido como sendo “nacional”.

Crimes, vendas, desastres, alegria, tristeza; aconteceu ali deve ser do conhecimento de todos, fora da li, interessa apenas a quem reside no lugar.

Não estou aqui negando o peso das duas metrópoles e de seus estados para a economia e política do país. A questão que se coloca é que devemos refletir sobre até que ponto determinadas discussões tidas como de âmbito nacional, não se circunscrevem apenas ao interesse de pequenos grupos (ainda que poderosos) das duas cidades.

Como no programa apontado no início da coluna, não me era interessante, nem pra minha digestão, ouvir durante quase uma hora, um bate boca sobre os dilemas, alegrias e
dissabores de um time terminado em “ão”.

Convido também a acessarem essa coluna em: http://histriasnoplural.blogspot.com/.