Artigo

RAPAPÉS & CALAFRIOS

“Há três amigos fiéis: a esposa idosa,
o cão velho e o dinheiro à vista.”
BENJAMIN FRANKLIN

No mundo caótico e tempestuoso da política é comum ouvir muitas estórias cabeludas, principalmente de correntes rivais: leia-se “os que estão no poder” dos que “não estão no poder”, os verdadeiros partidos políticos do mundo, à revelia das ideologias que abraçam.

Por isso que o presente texto vai recordar uma delas, que virou lenda, em um país distante, ainda bem. Certa feita, em uma cidade muito longe do Brasil, onde nunca acontecem estas coisas, havia um Hospital que era comandado por um famoso médico do lugar. Ele queria que a prefeitura repassasse, além da verba referente ao SUS – que cobria as despesas do Pronto Socorro –, mais R$ 150.000,00 livres para esse setor.

O Secretário de Saúde da época, outro médico afamado da cidade, olhou torto para a solicitação. Sabia que aquela Instituição era um antro de mafiosos, conhecidos como Remédios & Faturas do Câmbio Negro. Pediu, com certa urgência, uma auditoria e firmou o seguinte compromisso com a sua equipe de trabalho: após o resultado da sindicância assumiriam o PS daquela casa de saúde. Algo cheirava a podre e ele quis se prevenir.

Com tudo decidido, grupo médico/assistencial pronto e acertos resolvidos, ligaram para o digníssimo provedor que queria a bufunfa a mais. Relatou o acontecido, as providências tomadas, e desligou o telefone.

Tinha a certeza que havia dado um soco no fígado do rival. Depois da conversa telefônica, em menos de cinco minutos o poderoso homem de branco havia voado no seu bólido preto importado e estava à porta do Secretário, esbaforido, batendo à porta. Exigia audiência naquela tarde modorrenta. E o que se travou lá dentro da sala da Prefeitura foi uma verdadeira guerra de nervos.

O responsável pela política de saúde pública municipal chamou alguns servidores, de confiança claro, para ouvir e ser testemunha da conversa.

A tensão poderia ser sentida através das paredes. Estas tremiam, quase sucumbindo aos transtornos de uma maré bravia. Suor, intemperança, argumentos de ambos os lados.

Situações postas à mesa. Mal digeridas. Passadas algumas horas entre o disse-me-disse, queixas, culpas e tantas outras questiúnculas, o final do imbróglio foi o seguinte: nem o Pronto Socorro cerrou as suas portas ao público (o que veio a acontecer anos depois com a sucessora (falta de) administração municipal!), nem a dinheirama foi parar nos cofres do mafioso doutor.

Então as estrelas voltaram a brilhar, os sapos a coaxar, os sonos a serem mais leves e a turba ignara da cidadezinha esquecida lá nos cafundós do Judas nunca chegou a ter certeza de que o poder e o dinheiro têm manhas e artimanhas do diabo, porque jamais ouviram falar em tal assunto: eram todos cegos, surdos e mudos.