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Tempos duros contra movimentos leves

Durante os primeiros anos da instalação da República no Brasil, o presidente Deodoro da Fonseca, não teve dúvidas, considerou criminosos todos os praticantes de capoeira. Quem fosse pego jogando ou até mesmo tocando o berimbau poderia ser condenado ao desterro e à prisão na Ilha de Fernando de Noronha.

As leis foram rigorosas: fazer nas ruas e praças públicas exercícios de agilidade e destreza corporal conhecidos pela denominação de capoeiragem; será o autuado punido com dois a seis meses de prisão.

E não parou por aí o cerco foi se fechando, as penalidades aumentando, aos que eram considerados chefes a aplicação do castigo era em dobro, em caso de reincidência poderia levar à morte. Para o capoeirista estrangeiro a pena era ser deportado.

Com o rigor da lei, vários foram os conflitos que se repetiam contra os capoeiristas. Surgindo daí nomes e mitos lendários da história da capoeira que tiveram conflitos com a polícia, mas em nome de uma tradição e com a coragem e determinação peculiares aos grandes mitos, souberam preservar a capoeira: quem acabava com a festa, batia na polícia e o povo corria era Manduca da Praia, acabava com a festa no fio da navalha, era Manduca da praia.

Tempos duros e difícies de superar, apesar desse período tenebroso e, naturalmente, com medo da repressão, o capoeirista não desistiu e incorporou elementos da dança para sobreviver. E somente subsistiu graças ao seu estilo solto, sem muitas regras, podendo ser passado para os mais jovens com certa facilidade nos pequenos quintais, casas ou nas areias das praias.

Nas repressões sociais sobre os capoeiras, um elemento logo se destaca: o medo. Esse era o sentimento fundamental que os capoeiristas despertavam nas elites. Assim os capoeiristas passaram a ser considerados como o terror da população pacífica ou nuvens de capoeira que alarmavam a população. A polícia então agia com rigor contra esses “maus elementos”.

Na Bahia, a fase áurea da perseguição foi durante a década de 1920, quando assumiu a chefia de polícia o famoso Pedro de Azevedo Gordilho, lembrado pela memória popular dos capoeiristas como “Pedrito Gordo”.

Como consequência de todo esse sistema represivo montado para exterminar a capoeira, os capoeiristas, sentiram cada vez mais a necessidade de aperfeiçoá-la para safar-se da perseguição da polícia.

Os seus golpes tornaram-se mais perigosos, sutis e novas posições foram criadas e incorporadas a cada situação possível. Treinavam as escondidas e, para avisar que a polícia estava cegando ao local, faziam uso do berimbau (instrumento de percussão), que não existe somente em função da capoeira, usado pelos afro-brasileiros em suas festas e, sobretudo, no samba de roda. No momento de aproximação polical, era executado o toque de berimbau chamado de cavalaria, que imitava o tropel dos cavalos. Os praticantes imediatamente mudavam o ritmo e, disfarçavam o jogo em dança, com movimentos leves, soltos, acrobáticos, e longe de ser uma luta. Então praticavam a vontade, pois para a polícia a dança não representava perigo, era apenas, uma forma de diversão e, não percebiam a maneira em que os movimentos estavam sendo formados, constuíndos com precisão para ser usado no momento oportuno.