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Doença holandesa

Doença Holandesa, Dutch disease ou maldição dos recursos naturais, é um conceito econômico e tem relação entre a exploração de recursos naturais e o declínio do setor manufatureiro (industrial). No ano de 1977 a famosa revista “The Economist” utilizou esse termo para descrever o processo de declínio pelo qual passava o setor industrial da Holanda após a descoberta de grande fonte de gás natural. Essa teoria, se é que podemos chamá-la assim, prega que um aumento de receita decorrente da exportação de recursos naturais irá desindustrializar uma nação devido à valorização cambial, que torna o setor manufatureiro menos produtivo aos produtos externos. Com o início dessa exploração de gás a Holanda passou a exportar o mesmo em grandes proporções, o que provocou uma maciça entrada de divisas decorrente de suas receitas de exportação. O efeito da entrada de moeda estrangeira foi a forte valorização de sua moeda local (na época, o florim). A valorização cambial atingiu de maneira direta o setor industrial, afetando sua competitividade externa, estimulando as importações, o que levou ao processo denominado de desindustrialização.

Porém, é muito difícil dizer com exatidão que a doença holandesa é a causa do declínio do setor manufatureiro porque existem muitos outros fatores econômicos a se levar em consideração. No Brasil, a preocupação com este fenômeno vem surgindo com o crescimento nas exportações de commodities e mais recentemente com a possibilidade de exploração e exportação de biocombustíveis, principalmente o etanol. Além disso, outro agravante é a descoberta de fontes de petróleo na camada pré-sal, que poderá levar o Brasil a ocupar o grupo dos maiores exploradores mundiais do produto. O crescimento das exportações de commodities e suas perspectivas futuras e a conseqüente valorização do real já começa a ter efeitos sobre a indústria brasileira através da perda de competitividade do setor no mercado externo.

Até o início da década de 1990, a economia brasileira estava neutralizada dos efeitos da doença holandesa, através de mecanismos de proteção que suplantavam a valorização da taxa de câmbio. A partir daí, através da liberação comercial e financeira o país passou a apresentar altos níveis de desindustrialização.

Fatores como, o abandono de políticas industriais e comerciais, valorização cambial (utilizada como instrumento de combate à inflação), levaram o Brasil de volta à posição Ricardiana, ou seja, refletindo sua dotação tradicional de recursos. Assim, sob este ponto de vista, a questão que deve ser investigada é se essa “doença” foi originada pela descoberta de recursos naturais ou, de outra forma, surgiu devido aos acontecimentos citados após a década de 1990.

Alguns economistas acreditam que o Brasil contraiu em algum grau a doença holandesa, e assim, está em curso um processo de desindustrialização econômica. Outro aspecto que poderá agravar o problema são as negociações da rodada de Doha. O objetivo do Brasil é conseguir a diminuição dos subsídios que Europa e Estados Unidos dão a agricultura.

Estes já estão dispostos a atender algumas reivindicações feitas pelo Brasil, entretanto, como contrapartida, setores estratégicos da indústria brasileira terão de reduzir substancialmente suas tarifas aduaneiras.