Artigo

À velha/nova amiga reconhecida: A poesia

Com surtos de lucidez me conformo: mais do que escrever textos e buscar cada vez mais ser o maior, o melhor, é viver a poesia da escrita sem ter necessidade de escrevê-la. Viver as palavras em toda plenitude de significados & significâncias; aquele arroubo imobilizante, catarse de seres imaginários.

Mergulhar em sete ondas de utopias, sentir-se nuvem liberta em sociedade de padrões, amar sem saber, sem ruminar razões.

Perceber-se vivo pulsante em busca de aventuras. Viver a poesia dentro de si, para si, acordando para o mínimo. Ouvir o dedilhar no violão em boa música, ler um bom livro sem respostas, assistir cenas de belos filmes, comer um bom prato feito por Damiana, sorrir com dona Maria.

Corações sangrentos que batem com a energia desconhecida do cosmo: sentir-se um em meio a multidões; sentir-se plural em meio a solidões.

Intensamente viver paixões insólitas e os epifânicos sentimentos dos cálices de vinho das emoções… Cansei de tentar ser cult e querer rabiscar linhas perfeitas, cheias de jaulas inconceptas.

Ah! Imagens galopantes em mim, ciscos de prazer e galhardia, juventude de dor e flor, fazem despertar em minha alma apagáveis ardores em festa. Falcão do desconhecido e mártir do real persistir, pois da existência não plena só nos resta o percurso desse dadaísmo-nada, abstrato do absurdo, juntando palavras em redemoinho, corcovado de todas as purgações em novos ou derradeiros horizontes.

O sol esmaece no horizonte enquanto me perco entre todas as somas de instruções abstratas. Já não vejo janelas luminosas e loucuras ideológicas despertarem meu íntimo. Hoje, qual é o melhor caminho?

Num toque umedecido, num roçar expressivamente alucinógeno, um enorme elefante branco pesa entre a carcaça torpe da jovem literatura, teimosa em sua ínfima imagem!

Dirão alguns lúcidos nas suas fantasias vãs: o que importa quando nos resta e sobra o desregramento do real ou sua releitura ordenada vista por um ângulo obtuso? A verdade com desejos despretensiosos de apenas recriar… Saindo do ridículo cotidiano da mesmice que nos envolve e nos arrasta muitas vezes. Quero cheirar uma carreira de humanidade!

Quero sorver um litro de nirvana! Quero me embriagar até não agüentar mais desse líquido louco e miraculoso chamado amor!

Sou um eterno viciado e não quero me curar!

Neste mundo não há outra alternativa, é chocar-se com o nada e deliciar-se com os lábios; entregar-se ao devaneio e libertar a fruição apaixonante da prisão e dos medos. Que eu engula e viva para esse manicômio; que sejam meus sete pecados capitais!

O sol ainda teima no ocaso e eu canto como um louco alucinado e predestinado às mais confusas sensações diante da lagarta que me absolveu. Quem sabe a metamorfose virá em forma de rapsodo esplêndido?

Nesse instante de liberdade, deixemme apenas voar resoluto e romanticamente por todas as paragens inóspitas e desconhecidas. Tudo é distante, tudo é aterrador sob os prismas da razão e da loucura. Apenas desejo ser o que sou, e nada mais.