Artigo

Digestão II

O silêncio do poeta é o renascimento. Todas as elucubrações que fazem parte de nós se espargem em todas as direções. São tantas dores, são tantos amores, são ambos ainda a conquistar.

O espectro das paixões me persegue. Enxergo em mim todas que passaram por minha vida. Parece até uma obsessão. Não consigo me libertar dessa nódoa que macula as minhas emoções & sentimentos. Fico procurando ainda na lembrança momentos fugazes que me marcaram e que me volte ao passado: o quadril, os seios, o cabelo, enfim, as partes que teimam em viver em mim.

A rua é um deserto com miragens enlouquecedoras. Uma dor de cabeça anda a me espreitar. Cansome do meu-outro espírito. Ao tempo que tudo é volátil, toma importância inesperada. Quero esquecer, quero esquecer tudo. Quero uma novavida. Quero um novomotivo.

Há tantas flores a cheirar; tantas superfícies a tocar; tantos mistérios e aventuras esperando por mim. Por que desistir? Por que não tocá-las? E até mesmo vivê-las entre emoções naturais?Há tanto a conquistar, há tanto a descobrir: abismos e montanhas!

É necessária a apoteose do amor. Mais ainda surpreendente é o ápice das aventuras.

Tenho de centrar-me em mim mesmo! Buscar o meu eixo e minha paz. São encantadores os encontros e a solitude consigo mesmo.

É importante afastar as tentações. É desgraçadamente benéfico desistir dos devaneios. Mostra-se impossível crer no futuro; é admissível apenas crer no instante, no agora, no momento que passa.

Sou tantos e não sou nenhum. Há multidões e não há ninguém. Existem fraternidade e cooperação ao mesmo tempo em que o orgulho e a praga do egoísmo. Têm tantas realidades e poucas poesias no mundo.

São imprudentes as ficções. É necessário que vivamos a existência crua, sem gestos & sabores; sem toques & palavras. Apenas viver sem nos darmos conta!