Artigo

Verdades e versões

Os sentidos do homem fornecem informações deficientes, de modo que não é aconselhável confiar excessivamente naquilo que se ouve e que se vê. Não raro, ouvido e olho pregam pelas naqueles que os levam a sério.

De fato, certos povos falam se gesticulando muito. Um sujeito que não entenda adequadamente a língua poderá ser levado a uma conclusão inexata: verá uma briga onde existe apenas uma conversa sobre uma partida de futebol ou sobre um filme que está fazendo sucesso.

A percepção será igualmente falsa na hipótese de pessoas xingarem-se durante com um sorriso nos lábios e com gestos aparentemente afáveis, como só acontece nas festas de camada dita culta. Os que estiverem distantes tenderão a imaginar que, na verdade, aquelas pessoas se adoram. A ideia de agressão verbal parecerá absurda.

Já linguagem adotada por parte dos nossos políticos tem sido a mansidão acompanhada da barganha. Utilizam-se apenas de dois dedos para negociações, o polegar e o indicador. Para com o povo simplesmente o dedo médio. De fato, pessoas que tem um lado público, real ou fabricado, conhecem bem o valor da aparência como substituta do real. A linguagem e/ou gestos serão sempre importantes.

Ora, as versões podem ser consumidas por todos, uma vez que servem para todos os gostos e ocasiões. Pouco importando que alguém mais xereta ouse verificar se aquela mensagem foi efetivamente transmitida por Alá ou se foi produzida por um assessor de imprensa mercenário. Sempre haverá possibilidade de liquidar o inimigo em nome da coesão e do interesse financeiro e material.

Portanto, o conhecimento, na maioria das vezes, já nasce de acordo com as ordens ditadas pelo poder formal. A face mais interessante desse fenômeno – a supremacia do aparente sobre o real – reside no comportamento de membros do poder formal.

Certos indivíduos parecem ser especialistas na arte de negar aquilo que, por si só, é evidente. Utilizam-se, por exemplo, de canais de informações para explicar o inexplicável.

É incompreensível a situação dos poderes. O Judiciário continua moroso; o Ministério Público andando a passos de Jabuti; O Executivo inoperante, sem credibilidade e um Legislativo fraquíssimo, subserviente ao poder das negociatas. Cadê o natimorto CDL; o elefante branco das Associações comerciais;

Cadê os sindicatos, associações; cadê as lideranças progressistas? Cadê a imprensa livre? Estão (quase) todos no bolso do poder!

É visível e notório e só os idiotas não percebem que para os políticos desta região, o que importa, verdadeiramente, é que os poderes sejam mágicos e tenham um espírito joanista. Também produzem cargos capazes de sustentar um animado circo em que mãos hábeis vão tricotando agasalhos – para si e para seus protegidos.

Será que tudo isso é uma versão ou são fatos?

Viva a paciência e a capacidade de sobrevivência deste povo pacato, tupiniquim e cordeirinho, que é surdo, mudo e cego.