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Em tempos de ficha limpa: a massificação da informação e a produção da ignorância cívica

Nas últimas semanas fomos agraciados com duas grandes decisões judiciais provenientes do Supremo Tribunal Federal. Uma que decidia a manutenção do poder investigatório do CNJ e a decisão que confirma a constitucionalidade da lei da ficha limpa e sua aplicação para as próximas eleições.

No entanto, me veio à seguinte dúvida a partir do questionamento feito por meu amigo Marco Antônio Oliveira em seu post no facebook: “Por que a mídia televisa não divide os “holofotes” de dois casos judiciais tão importantes? Referindo-se a massificação da transmissão do julgamento do caso Eloá e tão pouca divulgação das decisões acima referidas.

Será que para a sociedade é mais importante desvendar os mistérios que cercam um crime passional ou será que é mais importante a informação que instrui, que civiliza, que amplia as nossas faculdades e obrigações como cidadãos?

Por que somos bombardeados com tantas carnificinas, com tanto pessimismo, com tanta informação que produz medo, angústia, ódio, violência, miséria? Por que não nos proporcionam entender o que é o poder investigatório do CNJ e se o seu funcionamento tem alguma influência para a melhoria das nossas instituições? Por que não discutir os artigos da Lei da ficha limpa para compreendermos quem de fato pode ou não pode se candidatar a cargo eletivo, para não ficarmos especulando se o prefeito ou o ex-prefeito poderá ser candidato?

Claro, isso não tem importância. O importante é informar a população brasileira que um cidadão invadiu a apuração do desfile das escolas de samba de São Paulo e rasgou as notas dos jurados, É reavivar na mente dos cidadãos momentos de terror que a menina Eloá viveu, é informar a liderança do BBB ou quem foi eliminado, é plantar a discórdia no carnaval com os artistas da Bahia. É transformar uma manifestação legal em ilegal. Isso é considerado informação…

Agora, fazer o povo entender o que é um órgão colegiado, quando um político ficará inelegível, o que devemos fazer, a quem devemos recorrer, não é importante porque o conhecimento nos liberta da ignorância e, consequentemente, muda a realidade das coisas. Infelizmente, a difusão da informação tem sido, em muitos casos, um mecanismo de manipulação e manutenção de um “status quo” dominante e excludente.

E, nas terras do sul a falta de informação pode ajudar muita gente, visto que o nosso órgão colegiado nem se manifestou quando irá julgar as contas do nosso capitão. Sabe-se lá por quê? Também como saber se não sabemos o que essa lei da ficha limpa quer dizer? Bem fez o outro que escolheu a esposa…