Artigo

A vida de uma guerreira

Forquilhinha (SC), 25 de agosto de 1.934. Nasce uma guerreira, bem no Dia do Soldado. Recebe o nome de Zilda. É a décima segunda filha num total de treze. Mora na zona rural e em sua cidade não há médico nem polícia. Quando as crianças se machucam é a mãe mesmo quem precisa fazer curativos e cuidar dos filhos como se médica fosse. Nascer em meio a tantas crianças faz com que Zilda tenha por elas predileção. Chega mais cedo na missa somente para poder tomar conta delas e segurálas em seu colo.

O tempo passa; Zilda necessita ser encaminhada para consulta médica na cidade de Criciúma, e fica impressionada com uma criança que chega cheia de feridas pelo corpo. Quer levá-la para casa de qualquer jeito, pois tem medo que não seja bem tratada. Esse episódio fica marcado em sua memória. A infância transcorre feliz, e Zilda descobre que cuidar de crianças é uma vocação que lhe parece bastante natural.

Aos quinze anos decide cursar medicina. A influência de um vídeo que assiste sobre crianças desnutridas no Rio de Janeiro é decisiva, e lhe desperta o desejo de ajudar os menos favorecidos. Quer ser médica missionária! A mãe fica feliz, enquanto o pai deseja que se torne professora. Zilda segue sua vocação e se forma em medicina. Torna-se médica pediatra e sanitarista. Casa-se e tem cinco filhos. Em 1978 fica viúva.

Num debate sobre a miséria em Genebra (Suíça), em 1.982, surge a idéia de levar a Igreja a assumir seu papel na luta contra a mortalidade infantil e a pobreza. Dom Paulo Evaristo Arns, irmão cardeal de Zilda, é procurado pelo então secretário executivo da UNICEF, James Grant, que lhe sugere a possibilidade de a Igreja, com toda a sua influência nas camadas mais pobres, reverter a situação da mortalidade infantil no Brasil. Dom Paulo recomenda a irmã para tal empreitada.

Pouco tempo depois, Zilda funda a Pastoral da Criança, a partir de um projeto feito com o apoio do próprio UNICEF. A primeira experiência, no município de Florestópolis (PR), aonde o índice de mortalidade chegava a 127 mortes para cada mil crianças nascidas vivas, apresenta excelente resultado. Após um ano de atividades na cidade, a mortalidade infantil se reduz a 28 por mil. Essa experiência é apresentada aos bispos do Brasil e, com o apoio deles, a Pastoral da Criança passa a funcionar como uma rede de solidariedade, formada por milhares de voluntários capacitados, trabalhando em todo o Brasil no combate à desnutrição e à mortalidade infantil, buscando uma melhor qualidade de vida para as crianças e suas famílias.

As participações de Zilda em eventos nacionais e internacionais são diversas. Ela leva a Pastoral da Criança para o mundo. Em janeiro de 2010 é convidada para mais uma dessas participações internacionais, no Haiti. Em meio a um forte terremoto que devasta um dos países mais pobres do mundo, a guerreira tomba. A Deus Zilda! Seu exemplo inspira e anima os brasileiros e todo o mundo. “Nunca se deve complicar o que pode ser feito de maneira simples”. Amamos muito você!

*Dados biográficos da vida de Zilda Arns Neumann extraídos de entrevista concedida por ela mesma à Revista Mundo e Missão.