Artigo

Ah, engraçado

Como é bom vivermos sem as teias complicadas criadas por nós mesmos e que nos amarram em labirintos incomensuráveis das ilusões.

Como é surpreendente sentirmos a paixão palpitando em nós sem a necessidade de decodificações que um único sorriso no rosto amado não resolva.

Como é fantástico fazer o que queremos, sem lamentar o que deixamos de fazer, além da idade que se avança e não podemos fazer mais por nos faltar força.

Como é bom vivermos em liberdade a escrita da existência, sem metalinguagem que não seja o próprio bem-estar! Apenas escrevendo nas linhas do horizonte o que vem à cabeça sem veleidade ou pretensão alguma.

Como é inebriante vivermos sem arrependimentos insossos, mas com o coração sempre aberto ao perdão das mazelas cometidas.

Como é incrível amarmos! Como é extasiante vivermos amando!

Como é bom amarmos levemente sem precisar de adjetivos pomposos e complexos. A cura para todos os males mundiais e íntimos do ser humano, e nem ao menos sabemos o que é definitivamente o amor, não temos a exatidão das suas significações, apenas o seu farol brilhando na correnteza dos dias.

Como é delicioso vivermos superficialmente quando a profundidade está mergulhada em traumas, egoísmos e vilanias. Esquecermos um pouco da triste realidade, da verdade única, da mentira sensata. Como é bom sermos simples e horizontais nos ramos do conhecimento, esquecendo a neurose dos que ambicionam a qualquer preço, a qualquer sacrifício, passando por cima de tudo e de todos. Melhor ainda é quando temos a profundidade de um orvalho que umedece a terra crua trazendo a fertilidade sem ao menos percebermos. Melhor ainda é sermos verticalizados na sensibilidade que a Natureza, criada e criadora, nos proporciona e nos dá a todo instante. Como é delicioso não possuirmos as chaves que abrem as portas de todos os mistérios, deixando com que a busca se intensifique a todo instante.

Como é gratificante ao espírito vivermos no mundo, fazermos parte do mundo e não sermos do mundo! É urgente descobrirmos a estrada certa e eterna, para a percorrermos com tranqüilidade, na certeza de um futuro grandioso e gentil.

Como é encantador sermos felizes com o que temos: nós mesmos! Nossa maior riqueza, nosso maior aprendizado: conhecer-se! Descortinar-se! Perceber- -se limitado! Mas tendo na cabeça que as estrelas são o objetivo final, que a montanha das nossas imperfeições pode ser movida, desde que se tenha a fé do tamanho do grão de mostarda e a grandeza espiritual da boa vontade.

Ah, como são boas as lições… Como são necessárias ao aprendizado humano! Como é bom aprender com os próprios erros, com a própria experiência, para não errar mais e viver sem equívocos! Porém, como é escandalosamente benéfico aprendermos com os outros! Mestres que se cruzam com a gente, deixando um lânguido e luminoso rastro de saudade, de exemplo, de persistência!

Como é gostoso desejarmos e sermos desejados! Como é gostoso querermos e sermos querido!

Como é fantástico podermos educar com exemplos em vez de ensinar com palavras vazias.

Como é esplendoroso trabalharmos naquilo que gostamos; fazermos o que desejamos fazer a vida toda, nem que seja no último suspirar, no último degrau da nossa subida.

Quanto gratificante é termos a casa que sonhamos, o carro que contamos, as roupas que mais gostamos, os bens que contemplamos… E mais gratificante ainda é ter a família que temos: com dores ou alegrias, com vícios ou harmonizada, com brigas ou carinhosa, com problemas ou unida.

Como é bom termos ombros amigos onde possamos enxugar nossas lágrimas; ombros para todos os instantes; amigos para o que der e vier.

A maior grandeza: sentirmos Deus dentro de nós em sentimentos & emoções nobres, imbatíveis & dignificantes sem nos perdermos nas máculas endiabradas da vida enfim…

Ah, engraçado tudo isso…