Artigo

Qual a diferença entre roubar um pão ou uma padaria?

No início do mês de junho aconteceu um fato inusitado na BA-415, trecho que liga Itabuna a Ibicaraí. Um caminhão cheio de revistas tombou na Curva do Boi (sentido Itabuna), e espalhou revistas por mais de 50 metros, ribanceira abaixo. Moradores de Itapé, Barro Preto e Ibicaraí, literalmente saquearam o caminhão sem nenhuma compostura. Eu, por acaso, estava indo para Itabuna com meu irmão e minha esposa e vi crianças e adultos vendendo, sem nenhuma vergonha, o fruto do saque (para não dizer roubo), na beira da pista. E muitos que passavam de carro compravam o produto, ali vendido mais barato (incentivando aquelas crianças a continuarem fazendo aquele tipo de ação). Pensei comigo e meus botões: Se alguém compra droga, está ajudando ao tráfego. E se essa mesma pessoa compra produto sem nota e fruto de um saque (roubo) está ajudando a quem?

Em princípio, não dei muita importância ao fato, mas ao chegar em Ibicaraí a noite, percebi que muitas pessoas tinham passado pelo local e ajudado a saquear aquele caminhão, pois segundo muitos, o próprio caminhoneiro disse que eles podiam pegar. Na verdade, o motorista do veículo só quis preservar sua vida, pois seria impossível segurar dezenas de pessoas que, viraram verdadeiros vândalos e pegaram indevidamente livros e revistas.

Ao ouvi tais relatos e ver o produto do saque, eu só fiquei triste com o que vi. A que ponto chegamos? Como alguém pode se beneficiar de um acidente ou até mesmo de uma tragédia e se apossar do que não é seu? Percebi que ainda falta muito para nos tornarmos pessoas honestas e civilizadas. O que aconteceu naquele trecho da BA entre Itabuna e Ibicaraí é o que acontece diariamente pelos corredores dos prédios dos Ministérios em Brasília e no plenário da Câmara Federal, só que com uma pequena diferença: os “saqueadores” são nossos políticos e as “revistas” são nossos reais, que vão em forma de impostos para o Distrito Federal e terminam tombando pelos corredores dos Ministérios.

Mais uma vez me perguntei: Se ao invés de revistas estivesse dinheiro para ser aplicado na construção de hospitais, escolas, calçamento de ruas, iluminação, compras de remédio, merenda escolar e tantas outras necessidades que nossos municípios e nosso povo tanto precisam, o que essas pessoas fariam? Você faria o que se encontrasse um caminhão do Governo Federal tombado e cheio de grana para ser aplicado nessas necessidades citadas acima?

Não sei o que você faria, mas sei o que o político brasileiro faz em Brasília todos os dias. Tem sempre um caminhão em alguma esquina, tombado e cheio de “revistas”. Eles, como vocês, só passam, param e pegam várias “revistas”. Eles (os políticos) são ladrões por pegaram “revistas” em Brasília? E você que pegou “revistas” na BA-415 é o quê? Fiquei muito triste e preocupado com o acontecido, e pouco pude fazer. Expliquei para minha filha que aquela era uma ação errada e que não devemos pegar nada de ninguém. Como Ruy Barbosa: “Fiquei com vergonha de ser honesto”.