Artigo

Sorrir é o remédio II

Como as intempéries da vida nos levam sempre aos descaminhos nem sempre planejados das nossas existências, a única saída é realmente sorrir, para não dar vazão a nenhuma depressão inconveniente ou oportunista.

E foi assim que fiz mais uma vez, sentado à beira da praia e ouvindo as estarrecedoras estórias de um amigo desavisado que, como sempre, merece a divulgação, sempre na tentativa humílima de divertir e dar certa leveza aos dias quentes de verão que estamos vivendo.

Antigamente, o carnaval de Itabuna era comemorado em plena avenida do Cinquentenário. E nosso amigo contador de “causos”, devidamente omitido o nome, estava tomando conhaque Cinco Estrelas, a noite toda, na barraca do colega e amigo bancário de alcunha Tijolão.

Saindo da festa de Momo amanhecendo o dia, travado, trocando as pernas, dirigiu-se à sua residência, tomou banho, pegou uma mochila e partiu para a rodoviária, ia a Santo Antônio de Jesus, atrás da namorada, pois a visitava de 15 em 15 dias.

Chegou na rodoviária, mostrou a passagem e sentou-se na poltrona do ônibus da Águia Branca, cochilou rápido. Bêbado, pocado, o sono parece uma eternidade. Aquela coisa de um minutinho só. Quando se deu conta, o veículo estava trafegando em direção à BR 101, na altura da, hoje, garagem da Rota. Quando viu os ônibus ali estacionados, se desesperou, dando uma de valente:
– Para o ônibus, para o ônibus! Que eu vou para Santo Antônio de Jesus, peguei o ônibus errado! – imaginando estar indo em direção contrária, em lado oposto. O cobrador tentou amenizar, segurando-lhe o braço:
– Não, moço…
– Me larga, me larga, me larga…
– Moço, você está dentro do ônibus para Santo Antônio… Ele, totalmente em paranoia, misto de ressaca e sono: – Me larga, me larga, me larga, que eu tenho que ir para Santo Antônio de Jesus!

Aquela confusão infrene alardeou todos os passageiros, despertando-os para a loucura do caso inusitado em questão.

O motorista se zangou e encostou no posto de gasolina ao lado e ele se dirigiu à rodoviária. Chegando lá, percebeu a besteira que fez:
– Ih, eu tava no ônibus… E agora?

Pegou um táxi e foi atrás do automóvel, só alcançando-o em Ubaitaba. Pagou um dinheiro da zorra pela corrida.
Com a maior cara de pau, foi subindo no ônibus, o motorista quando viu, foi logo dizendo: – Aqui você não vai entrar, não! Ele tentou contemporizar:
– Não, o senhor me desculpe aí, passou já…
É que eu amanheci no carnaval de Itabuna, estou meio desnorteado… mas já tou beleza já… já sarei já!… E sob os olhares desconfiados de todos os que assistiam a cena, principalmente da senhora que estava na poltrona ao seu lado, ele subiu de novo no buzu, podendo, enfim, tirar o seu sagrado sono de folião ensandecido, enquanto as rodas singravam o asfalto em direção à cidade desejada.