Artigo

Humberto de Campos

Humberto de Campos padecia de dois grandes males: era profundamente tímido e tristemente pobre e, para exemplificar estas duas contingências de sua vida, colhem- se duas situações com ele ocorridas: a primeira, ia ele de ônibus para a redação do jornal, quando o cobrador dirigiu- -se a uma jovem para receber o preço da passagem e ela lhe de uma nota de valor bem maior do que o valor do bilhete – na época um real e cinquenta centavos, da época, década de trinta do século XX – e em revide, o cobrar espumando raiva desnecessária, recusou-se a trocar o dinheiro entregue pela jovem, fazendo-o em termos grosseiros e mesmo ofensivos. Ele, Humberto, mexia e remexia a mão no bolso onde se encontravam exatamente, o valor da passagem, mas faltou-lhe coragem para se levantar e pagar a passassem da bela moça.

Enquanto isso, um outro passageiro levantou-se, foi até o mal educado cobrador e pagou a passagem da jovem e Humberto de campos sofria com a sua mórbida timidez.

Além disso, como afirmei supra, era ele paupérrimo. Ia diariamente ao jornal para entregar a sua crônica a ser publicada e receber o que significava o seu pão de cada dia. Situação inteiramente diversa dos países adiantados, onde sempre os intelectuais foram prestigiados a ponto de viverem de sua produção literária.

Conto isso para lembrar uma das figuras maranhenses de maior destaque na literatura brasileira, como jornalista, cronista, poeta, e salientar que o intelectual brasileiro da época, não podia viver de sua produção intelectual, como ocorre hoje com diversos dos nossos destacados escritores, a começar pelo baiano João Ubaldo Ribeiro, Veríssimo, Jorge Amado e alguns outros, sem necessidade de buscar nas funções públicas a própria subsistência a começar pelo vulto maior de Machado de Assis, Gonçalves Dias, Euclides da Cunha, para citar alguns exemplos.

Sinto que a situação parece mudar as cores para tons mais agradáveis e a casa dia vem os despontar um autor colhendo com grande sabor, os frutos de sua produção literária, a exemplo de Getúlio Vargas; e da trilogia, 1500, 1888 e 1899, dentre outros, o que deixa os amantes da literatura bem felizes, em amor ao trabalho dos autores brasileiros, independentes da colaboração estatal para alcançar o merecido sucesso. E peçamos aos poderes sobrenaturais que assim seja e continue a ser ad eternum.

Esperamos que os exemplos indicados não sejam apenas exemplos, mas o principio de uma verdadeira semeadura de bons autores, que possam modificar a cultura brasileira levando a todos os grandes benefícios que o conhecimento traz e que a ignorância afasta e impede o indivíduo de bem escolher entre o bom e o ruim, entre o sério e o falso e entre o discurso mentiroso e o discurso sincero e verdadeiro.

Mas Humberto de Campos conseguiu vencer e ser respeitado como notável intelectual até os nossos dias.