Artigo

Poupanças sonegadas

É notório que os banqueiros são atores principais no elenco que nos governa. Dão-se ao luxo de falir, permitir rombos das contas e mesmo assim o governo lhes tapa os buracos. Os balanços anuais apontam lucros vultosos, as tarifas de serviços excedem o limite do razoável, mas os bancos raramente abrem o cofre em favor dos clientes.

O Supremo Tribunal Federal (STF) acaba de sofrer pressão do banqueiros, com o apoio do governo, para engavetar o processo de resgate de poupanças subtraídas nos planos econômicos Collor(1990-1991), Verão (1989) e Bresser (1987). O STF reagiu e a pendência será votada em 2014.

Uma carta de “notáveis”, entre estes o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, alegou que a reposição das perdas dos poupadores quebraria o governo e o sistema financeiro. Dizem que seria um “erro histórico, sem considerar a necessidade de justiça histórica. O banco Central calcula o desembolso, se vitorioso o pleito dos poupadores, em 150 bilhões. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) baixa o cálculo para R$ 24 bilhões.

Há jurisprudência favorável aos poupadores dos planos Verão e Bresser. Mas certos ministros que já defenderam bancos ou têm parentes próximos em escritórios de advocacia ligados ao sistema bancário podem entornar o caldo. O relator da matéria é o ministro Lewandowski. O banqueiro jamais perde. Mudam os remendos econômicos e ele lucra. Desvaloriza a moeda e ele já sabia e lucra. Sobem os juros e ele lucra. Ações disparam na Bolsa e ele avisado compra – ou vende, em caso contrário.

Por seu turno, o governo doa dinheiro nosso a Cuba, a países do Oriente Médio e ditaduras africanas sem consultar a sociedade, levado por parcerias ideológicas. Deixa-se espoliar por vizinhas republiquetas falsamente revolucionárias, apenas populistas – e ponto final. Mas, internamente, nega-se a reparar seus erros históricos, deixa o correntista- -poupador com a certeza de que lhe metem a mão no bolso.