Artigo

O nó do cacau um ano depois…

É preciso mobilizar as instituições sociais a assumirem a bandeira do cacau. Nossas “lideranças políticas”, infelizmente, vivem do oba-oba dos holofotes, marcam suas presenças na hora da festa e depois somem para só reaparecerem na época das novas eleições. Alguns políticos tiram proveito da desgraça alheia e manipulam as situações de maneira que eles pareçam “fortes e dignos” representantes dos produtores. Não são!

É hora de mudar o jogo: chega desse esquema um-ganha-o-outro- -perde (no caso, específico, a sociedade perde e os maus políticos ganham). Todas as boas organizações sociais no Brasil e no mundo já descobriram (e praticam) o jogo do ganho- -eu-ganha-você: um esforço conjunto para o bem-estar coletivo. Políticos precisam de votos, a sociedade precisa de ações. Essa é a realidade. Não dá mais para engolir os discursos de ocasião.

Socialmente continuamos atrelados a um modelo político inútil: enquanto produtores(as) de cacau clamam por respeito, reconhecimento, e verbas que efetivamente transformariam para melhor a nossa realidade ecológica, econômica e social, milhões e milhões de reais são desviados parar no bolso sem fundo da roubalheira instituída nesse país. Para piorar, a mesma sociedade que tanto critica aqueles discursos de ocasião é a mesma que continua elegendo os nefastos canalhas a décadas.

O mundo mudou. O ‘jeitinho brasileiro’ há muito tempo é visto como uma piada de mau gosto. O amadorismo é uma praga brasileira que nos amarra ao passado colonial. Por isso é preciso que produtores e produtoras saibam que a luta pelo cacau só será vencida quando se vencerem todas as batalhas (históricas, políticas, sociais e econômicas, etc.). As batalhas, por sua vez, só serão conquistadas quando houver estratégia, união e consciência para botar pra correr aqueles que mascaram a realidade, e iludem a sociedade com discursos vazios, em detrimento daqueles que sofreram e sofrem as consequencias de suas artimanhas políticas.

A lavoura cacaueira tem vivido, por mais de vinte anos, a maior de todas as suas crises, resultante da praga da vassoura-de-bruxa (e também do descaso com o que as “autoridades” trataram e tratam o assunto). E esta crise trouxe em seu bojo entraves e estagnações econômicas, ambientais, turísticas, culturais e sociais tão fortes quanto um “nó” muito bem apertado, estrangulando a sobrevivência de toda a Região Cacaueira. Mas, quem se preocupou em contar, registrar, documentar os acontecimentos que resultaram na chegada da vassoura-de-bruxa à lavoura cacaueira do sul da Bahia? Felizmente um bravo e abnegado diretor: Dílson Araújo! E também do grande batalhador Dorcas Guimarães!

E ainda bem que Dílson e Dorcas se comprometeram com esta enorme tarefa, e contaram a maldita história da praga da vassoura-de-bruxa, num documentário (O Nó: ato humano deliberado. Que no último dia 04 de abril fez um ano da sua primeira exibição), caso contrário, as gerações futuras poderiam afirmar, sem reservas, e em alto e bom som que a Região cacaueira se acovardou diante de uma tramóia urdida nos desvãos de interesses mesquinhos, provavelmente, partidaristas. Mas, e os historiadores da Região, o que fizeram? O que estão fazendo? Neste particular, me incluo e me penitencio: deveria ter exercido com mais energia o meu ofício de historiador para colaborar, humildemente, com o Dílson e com o Dorcas e tantos outros que fizeram esse documentário. Desculpem-me.

Dílson Araújo desfez o nó político do cacau! Muito obrigado Dílson! E esse sentimento de gratidão não é apenas meu, mas, de todos os que compreendem que a causa do cacau é maior que qualquer interesse individualista: a história do cacau é maior que as nossas vidas! E, a propósito, Edvaldo Sampaio foi o maior exemplo disso. Até o último instante, mesmo muito adoentado, ele lutou para provar (e provou) a viabilidade da cacauicultura. Que Deus o abençoe Edvaldo.

Por fim, peço licença a Edmon Ganem para transcrever aqui suas sábias palavras a respeito do documentário e da situação da região cacaueira: Aos caros amigos idealizadores do NÓ, parabenizamos por esse grande documentário que se bem utilizado poderá dar outro rumo a Região Cacaueira. As mudanças são duras, mas, precisamos ter coragem para mudar. Mobilizando a sociedade. Fazendo os políticos entenderem que eles foram eleitos para atender as demandas da sociedade. As crises, segundo o economista Schumpter, existem para provocar mudanças. Talvez na nossa Região elas tenham vindo para acordar a todos, principalmente os que estavam dormindo em berços de ouro. Em 1989, a última sequência das três grandes crises do cacau baiano, as medidas tomadas pelo governo não foram suficientemente adequadas para solucionar o problema grave que a partir de então vem assolando a Região. Portanto, todos estão pobres: grandes, médios e pequenos. Mas, não são só eles. Toda cadeia produtiva do cacau com exceção da indústria, foi desmantelada. Parabéns ao Dílson e a Dorcas e a todos que de alguma forma contribuíram para a realização do filme. A história não será a mesma após o registro deste documentário.