Artigo

A casa de Deraldo

Pela idade e pelos sonhos, Deraldo parecia um moço sensato e do bem. Desde os 14 anos, Deraldo sonhava com a casa própria. O problema de Deraldo põem, como o de muita gente, é o modo de aquisição do objeto desejado. Para ele, os fins justificavam os meios. Foi assim que Deraldo adquiriu, aos 18 anos, uma “casa”, através da qual todos os dias vê o sol nascer “quadrado”.

Dir-se-ia que Deraldo passou de estudante de uma banca simplória, com professores dedicados, mas despreparados, onde morava e com quem convivia, para uma universidade publica, com direito a fazer PhD e doutorado no crime. Seus irmãos e professores que o iniciara, embora se achando os tais, não eram graduados na área. Lá na prisão, tem professores super preparados e alunos com vivências para aprendizagem e troca de experiências, em todas as áreas do delito.

Deraldo agora se encontra recolhido, mas sabe que sairá dali e, preparado para a vida que escolheu, terá tudo a seus pés: dinheiro, poder, carrões e mulheres… Às vezes tem ódio dos seus dois irmãos, por ter contribuído para ele estar ali, mas às vezes também até lhes agradece, pelo cabedal de conhecimento e experiência que está adquirindo lá dentro.

Quando sair dali e estabelecer o seu Cartel, ninguém atravessará no seu caminho, nem invadirá a sua área, na luta pela extensão desta. Talvez resolva monopolizar a sua atividade criminosa. A facção mais fraca que se dane, até mesmo se pertencer a um dos seus dois irmãos. Estes, principalmente estes, devem sair do seu caminho, sob pena de pagar com a própria vida, não se contentando em deixá-los vivos, como simples prisioneiro de guerra.

Diante de perspectivas tão promissoras, Deraldo sente-se como quem renasceu de novo. Tudo isso, graças aos professores que são como se fossem os seus verdadeiros “pais”; aos colegas, que são como se fossem os seus verdadeiros “irmãos” e aquela casa que é como se fosse o seu verdadeiro “lar”.