Artigo

Gabriel Garcia Márquez: A luz das palavras

O escritor colombiano, Gabriel García Márquez, apelidado Gabo, nasceu em 1928 na aldeia de Aracataca, na Colômbia. Logo cedo, deixou a casa dos pais e trabalhou em diferentes empregos. Estudou em Barranquilla e posteriormente iniciou ao curso de direito em Bogotá. Na mesma época publicou seu primeiro conto. Exerceu o jornalismo e foi correspondente das Nações Unidas em Nova York. Em 1982 recebeu o Prêmio Nobel de literatura pelo conjunto de sua obra. O corpo físico de García Márquez faleceu na última quinta-feira (17.04) no México.

A luz das palavras que García Márquez acendeu em sua literatura espetacular, iluminou a fantasia, o pensamento, a curiosidade, a beleza e os dramas humanos (sobretudo os dramas humanos!). Estas luzes-palavras permanecerão eternamente acessas, por isso mesmo são e serão muito maiores que esse lapso de tempo físico, apenas 86 anos, no qual Gabo esteve entre nós. Lembro-me, por exemplo, de ter lido, pela primeira vez, “Cem anos de solidão” aos doze anos de idade.

E que depois, o reliem outras fases da minha vida. E que desde aquele primeiro momento (fascinante e extraordinário), até os outros que se sucederam (principalmente os que se sucederam) minhas emoções se renovavam e não paravam de pensar naquela história fantástica e exuberante!

Lembro-me também que lia “Cem anos de solidão” com uma alegria transbordante e uma tristeza anunciada: quando eu terminar de lê-lo como vai ser?! E já perto do fim do livro, lia-o bem devagarzinho, como criança que quer fazer durar (quem dera para sempre!) um sorvete de sabor inigualável e esplendidamente gostoso! Lia e lia e lia “Cem anos de solidão” com gula!, e me angustiava ter que finalizá-lo, porque assim me distanciaria de Macondo (minha segunda cidade natal) e das histórias da família Buendía (minha segunda família!).

“Cem anos de solidão” não se explica. É preciso lê-lo. Todas as palavras são inúteis para descrever precisamente o que Gabriel García Márquez escreveu! Conhecer as histórias de José Arcadio Buendía e sua prima Úrsula Iguarán, com a qual se casou, e que por causa de conversas maledicentes, no local onde eles moravam, de que seus filhos nasceriam com rabo de porco, motivou-os então a saírem dali para fundarem o vilarejo de Macondo. Daí por diante, nós leitores(as), passamos a acompanhar as glórias, belezas, dramas, estranhezas e desgraças de Macondo e seus habitantes. Não sendo possível deixar de se encantar com aquelas histórias que se multiplicavam e se entrelaçavam, desmedidamente fantásticas!
Evidente que García Márquez tem outras muitas obras espetaculares e arrebatadoras, como por exemplo: “Ninguém escreve ao coronel”; “A incrível e triste história de Cândida Eréndira e sua avó desalmada”; “O outono do patriarca”; Crônica de uma morte anunciada; O amor nos tempos do cólera”;

“Doze contos peregrinos”; “Memórias de minhas putas tristes”, etc. Estou me detendo mais especificamente a “Cem anos de solidão” por todo o impacto fascínio e paixão que este livro me causou.

Aliás, falando em paixão, lembrei-me ainda de trechos de “O amor nos tempos do
cólera”, livro que me fez conhecer o amor intensamente, exuberantemente
e sobretudo delicadamente! Leia, com atenção: “Era ainda jovem demais para
saber que a memória do coração elimina as más lembranças e enaltece as boas e que
graças a esse artifício conseguimos suportar o passado.” Ou ainda: “Não revelara o segredo
de seu amor nem mesmo à única pessoa que conquistara o direito de sabê-lo… Não porque não quisesse abrir para ela o cofre onde o guardara tão bem ao longo de meia vida, mas porque só então percebeu que tinha perdido a chave.” Genial, não é?!

Meu último contato com García Márquez foi através de “Memória de minhas putas tristes”. Este livro conta a história da velhice, e de como o protagonista a encara: sem lamentos, ou rancores; ao contrário, com alegria e muito deboche. E num dos momentos mais encantadores do livro, a cafetina, amiga do protagonista (sem nome), profetizou, referindo-se a ele (o protagonista): “Não vá morrer sem experimentar a maravilha de trepar com amor!”. Lindo, preciso e utilíssimo conselho!

Prezado(a) leitor(a) não vá morrer sem ter lido Gabriel García Márquez.