Artigo

A boina do capitão

Eles estavam no primeiro andar de dois edifícios, na mesma – sobre a cabeça de algumas pessoas, mas nenhuma delas reagira, como se nada tivesse acontecido. Chegam à conclusão de que não adiantava fazê-lo em determinadas pessoas, notadamente nas pessoas portadoras de cabelos. Insistiam em provocar uma reação. Resolveram cuspir, então, na cabeça do primeiro careca que passasse. Os transeuntes se deslocavam: para lá e para cá. Nenhum careca passava. Resolveram contar até cem. Passaram de cem. Começaram a ficar nervosos. De repente recebe uma ligação: – Passou algum careca aí? – Ainda não. – E aí? – Também não. Os edifícios ficavam no mesmo lado, longe um do outro, mais ou menos a mil metros de distância. O telefone voltou a tocar: – Um careca passou aqui agora.

Cuspir na cabeça dele. Vai passar aí. Você não deve perder a oportunidade. Quanto mais que ele também não reagiu. O homem estava vindo. Reconheceu nele um capitão de policia. Estava à paisana, mas portava uma boina sobre a cabeça. Por coincidência tirou a boina e expôs a careca. Ligou tentando tirar a duvida: – O homem tirou a boina agora. Deve ter passado aí com ela na cabeça! Você cuspiu na boina ou na cabeça dele? – Já lhe disse: cuspi na cabeça dele! O policial se aproxima. Tinha que decidir. Pensou várias vezes. Cuspir logo na careca de um capitão de policia? O policial caminha na mesma direção, mas passa na lanchonete para beber água e tomar um cafezinho.

O capitão era corajoso e violento. Fez carreira baseado no desempenho destemido do cargo funcional. Dizem que tem fama de matador. Não entendia porque ele não tivera tambem qualquer tipo de reação. Se a ação fora praticada era porque quem a fez não o conhecia. Ele é quem não podia fazê-la. Desistiu da ação. O policial prossegue e passa. O homem observa que ele não mais usava nem levava a boina. Suspeita que a esqueceu na lanchonete.

Desloca-se para lá. Chegando à lanchonete, confirma a suspeita e contata sinais de cuspe da boina do capitão.