Artigo

A casa da moeda

A casa que se encontrava no boque foi cons¬truída no século X. Media treis mil metro de cum¬primento, por trinta metro de largura. Tinha as paredes e a cobertura feita em pedra talhada. Como as portas foram destruídas pelo tempo, a partir do segundo quarteirão, parecia mais com um túnel, pelo formato de sua arquitetura e pela falta de iluminação. Dentro dela não havia sinais do dia; só da noite, mas sem a lua e as estrelas.
Corria noticia de que lá havia muitas pata¬cas de ouro. Por isso era chamada de A Casa das Moedas.

Tanto a entrada da frente como a do fundo estavam aberta. Até então ninguém a tinha per-corrido, começando pela frente ou por trás, até sair do outro lado.

Não faltava quem quisesse saqueá-la. Muita gente tentou fazê-lo, mas não teve coragem de prosseguir. Era muito escuro. Não adiantava le¬var velas nem tochas de fogo(naquela época a luz elétrica ainda não tinha sido inventada), pois um vento forte aparecia, não se sabe como, apagan¬do-os. Por isso havia também quem a considerava como uma Casa Mal Assombrada.

Quem tentou penetrar na casa, chegou so¬mente ao terceiro quarteirão e percebeu, pelos grunhidos, que lá havia muitos morcegos, satos e baratas; pelo tato e pelo olfato, poeira, casas de aranhas, umidade e cheiro de mofo.

Um cego resolveu percorrê-la. Fez algumas economias e comprou mantimentos. A travessia poderia durar alguns dias. Acreditava que, pelo fato de ser cego e ter se acostumado com a falta da visão das coisas, não teria os mesmos proble¬mas de quem sempre as estava enxergando. Os oculistas da época disseram-lhe que sua visão dava para ser recuperada, desde que dispusesse de condições financeira.

O percurso começou. O cego carregava uma tocha de fogo com uma mão e com a outra segu¬rava no seu guia, deixando este empurrar um pequeno carro de mão, no qual levava comida e bebida. Não passaram do terceiro quarteirão, quando a tocha de fogo se apagou. O guia gritou desesperado:

– Não to vendo nada! Eu fiquei cego também! Vamos voltas! Vamos voltar!

O guia voltou dizendo coisa com coisa, como se tivesse se tornado um doente mental.

O cego, mesmo assim, prossegui. Levou dois meses para percorrer o todo o imóvel. Se não conseguisse conduzir o carro de mão, levando os mantimentos, teria morrido de fome, de sede e ficado apodrecendo dentro da casa.

O ato deve grande repercussão. O cegou ficou famoso, sumiu e depois apareceu. Não disse se teria encontrado pataca de ouro nenhuma, mas todos constataram que ele havia se recuperado da própria visão.