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Os bancos são mais importantes que o planeta!

Entre os dias 07 e 18 de dezembro (2009), ocorreu em Copenhague (Dinamarca), uma conferência com o propósito de encontrar metas para frear o acelerado processo de mudanças climáticas no planeta. Contudo, em oposição ao que está acontecendo no mundo (temperaturas cada vez mais altas), a COP15 foi bastante fria. Assim sendo os resultados da Conferência de Copenhague, em última instância, refletiram as expectativas dos bancos, ou seja, aplicar e ganhar dinheiro nos países desenvolvidos e emergentes (que por sua vez não querem sacrificar seus crescimentos em nome de uma bobagem ecológica) porque é assim, com dinheiro, que o mundo funciona… O resto é coisa de ecologista desmiolado. Há muito tempo o mundo já não é comandado por pessoas de carne, osso (e alguns sentimentos), porém, por grandes instituições financeiras e empresas. As decisões não dizem mais respeito ao que as pessoas querem, mas, ao que economicamente interessa às grandes corporações. Observe com mais cuidado, relembre com mais atenção, por exemplo, a preocupação e a velocidade com que o mundo, ou melhor, os governos dos países ricos e emergentes, dedicaram-se para resolver a crise financeira global de 2008/2009… Não houve, naquela ocasião, uma lenta, gradual e paciente conferência sobre o que fazer diante da crise financeira; ao contrário, agiu-se bem depressa para salvar os bancos, que era tudo quanto importava, e azar do resto (o “resto”, neste caso, somos nós os seres ‘otários’ humanos!).

Vejamos algumas medidas concretas sobre aquela crise: os Estados Unidos aprovou, emergencialmente (!), uma ajuda ao sistema financeiro no valor de 700 bilhões de dólares; a Alemanha ajudou os bancos com 500 bilhões de euros; a Áustria anunciou um pacote de 100 bilhões de euros; a Bélgica injetou 4,7 bilhões de euros e assegurou o controle de um banco hipotecário; a Eslovênia anunciou que todos os depósitos bancários do país seriam garantidos; a Espanha financiou 150 bilhões de euros; a França apresentou um plano de resgate que chegou a 360 bilhões de euros; a Grécia disponibilizou 28 bilhões de euros para garantir a liquidez do setor bancário; a Holanda gastou 220 bilhões de euros; a Irlanda anunciou a garantia de 400 bilhões de euros; a Islândia estatizou os três maiores bancos da ilha; a Itália aprovou por decreto um pacote destinado a reforçar a segurança dos bancos e garantir depósitos dos correntistas; Portugal disponibilizou 20 bilhões de euros para garantir as operações financeiras; o Reino Unido financiou 500 bilhões de libras esterlinas; a Rússia anunciou uma ajuda emergencial de 150 bilhões de dólares e no Brasil o Banco Central anunciou a liberação de recolhimento compulsório, deixando disponíveis R$ 100 bilhões para o setor financeiro.

Enquanto aquela crise financeira internacional era rapidamente socorrida com bilhões e bilhões de dólares e euros, a Rádio das Nações Unidas noticiava: “pelo menos 40% dos africanos vivem na pobreza extrema; a África precisa de US$ 72 bilhões para alcançar as metas do milênio, afirmou o Secretário-Geral da ONU”; “Atualmente, um milhão de pessoas perde a vida todos os anos para a malária. Para eliminá-la, em nível global, seriam necessários US$ 5 bilhões”;

“A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) informou que os altos preços dos alimentos levaram mais 75 milhões de pessoas a passar fome no mundo. De acordo com a FAO, o total de famintos em 2007 aumentou para 923 milhões”, etc., etc., etc.

Equilibrar a sustentabilidade ambiental planetária no médio e no longo prazo com os interesses imediatos do sistema financeiro global é o grande desafio não apenas de Copenhague, mas, de qualquer Conferência que se proponha a discutir estas questões. No momento, os donos do mundo já decidiram que cuidar do sistema financeiro é mais importante do que cuidar da vida no Planeta.