Artigo

A galinha poedeira

O pai e a mãe foram abatidos, deixando-lhe uma franguinha órfã. Vitimas da própria gula, foram ganhando peso, sem perceber que só serviam para o abate. Ela, pelo contrário, procurou o caminho da longevidade, sendo preservada por ter se tornado uma ave altamente produtiva.

Com seis meses de vida, já tinha botado dez mil ovos. Cada ovo pesava um quilo, podendo dar dez pintinhos, sem contar com a qualidade da clara e da gema. O menor preço da dúzia – sempre ouvia o dono do criatório falar – era trezentos e cinqüenta reais ou trezentos e cinqüenta euros, a depender do mercado interno ou externo, onde o negócio fosse fechado. O importante para ela é que, mesmo pondo tantos ovos assim, num pequeno espaço de tempo, não tinha se tornado uma ¨galinha¨ no sentido pejorativo do termo. Só cruzava com um parceiro, a quem dava e de quem recebia muito respeito. Comportava-se assim com tanta dignidade, sendo merecedora de indenização civil, se lhe dessem motivo para requerer danos morais.

Quando perdia um parceiro reprodutor, em decorrência do abate por disfunção erétil, arranjava logo outro, no próprio velório do falecido, preocupada em manter o seu alto índice de produtividade. Genitora de mais de cem mil pintinhos, foi eleita a Mãe do Século, ganhando uma excussão pelo mundo inteiro. Quando passou pela Ásia, cruzou com um galo infectado, provando ser imune ao vírus da gripe aviária. Lodo depois, retornou lá, a convite do Governo Asiático, para receber o troféu de A Ave de Maior Resistência Genética do Mundo.

O prêmio mais relevante que a galinha poedeira recebeu, no entanto, foi dado pelo próprio dono do criatório. Este, em reconhecimento aos serviços prestados, tornou-lhe a ave mais privilegiada da sua criação, quando garantiu que, encerrado o ciclo produtivo, ela não seria mais vítima do abate.