Artigo

Desperdiçando esperanças

Quando, principalmente, as eleições se aproximam, assistimos alguns políticos profissionais discursar em favor da Educação. Na prática, entretanto, a coisa é bem diferente: a retórica dos palanques, as promessas e as propagandas são tão vazias quanto tem sido a esperança de vermos prosperar no Brasil uma cultura educacional, de fato, transformadora, dinâmica, profissional e emancipadora.

Para piorar a desgraça que não é pouca, a presidente, assistindo de camarote o resultado de suas mentiras eleitorais, terceirizou o poder: entregou o comando político ao vice-presidente Michel Temer e o comando econômico para o ministro da Fazenda Joaquim Levy. Este último não perdeu tempo e cortou 69,9 bilhões de reais do Orçamento da União, retirando da Educação, por exemplo, o equivalente a 9,4 bilhões de reais. E se a Educação já não funcionava com aquele dinheiro, menos ainda vai prestar sem os bilhões que lhe foram cortados. Ainda assim, o (des)governo insiste que esta é uma “pátria educadora”. Pode?

O resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), índice que mede a qualidade da educação no País, deixa claro que o estado não está fazendo nem o mínimo suficiente. A Educação no Brasil está mergulhada no caos: investimentos escassos, desinteresse dos governantes, péssima remuneração dos professores, infra-estrutura precária e falta de planejamento a longo prazo são alguns dos itens que demonstram o descaso que nos aprisiona a um modelo claramente falido. Vejamos outros dados…

De 2011 a 2013 o desempenho educacional no Brasil caiu em 13 estados. Considerando o desempenho das redes estaduais, apenas seis estados atingiram a meta esperada do Ideb. No ensino médio, de 2011 a 2013, a nota não cresceu e manteve-se em 3,7 pontos, não atingindo a meta que era 3,9. Considerando o desempenho por categoria administrativa, nas escolas privadas o resultado foi pior: a nota caiu de 5,7 em 2011 para 5,4 em 2013, ficando distante da meta que era chegar aos 6,0 pontos. Desde a criação do Ideb, foram estabelecidas metas que devem ser atingidas a cada dois anos por escolas, prefeituras e governos estaduais. E os resultados têm sido cada vez mais pífios!

O mais grave ainda não aparece nos dados educacionais: alunos que não querem aprender! Não basta, pois, ter bons professores, tecnologias encantadoras, infra-estrutura adequada, disciplinas objetivas, abordagens pedagógicas diversificadas e etc., se os alunos não querem aprender. Além disso, é urgente que a família e a sociedade valorizem a Educação (mais especificamente a formação intelectual, uma vez que cabe à família o papel de educar).

Em síntese: os professores precisam ser ouvidos! É um absurdo “planejar” a Educação sem a participação efetiva dos educadores. Tem acontecido algo assim: uma parcela significativa dos professores, pressionados pelos pais, preferem o entretenimento à exigência dos conteúdos. Boa parte dos professores tem praticado o perigoso “jogo do contente”, ou melhor, atendem aos caprichos dos alunos, para não ter que enfrentar maiores problemas com a família e às vezes com a coordenação escolar. Deste modo, a escola está se descaracterizando, assemelhando-se muito mais a uma colônia de férias!

Acompanhe agora o desabafo de um colega professor com carga-horária máxima, ensinado em três escolas diferentes, para garantir um “troco” que em verdade apenas possibilita sua sobrevivência e o exclui (como exclui a maioria dos professores) das oportunidades de crescimento intelectual, espiritual e material: “Estou para entrar em depressão de tanto dar murro em ponta de faca. Está tudo tão deteriorado que eu não sei mais se a escola é o reflexo da atual sociedade, ou se é a sociedade o resultado da ruína desta escola que aí está!”. Pois é, “depressão”, “ruína”, “murro em ponta de faca” são vocábulos e frases que fazem parte do cotidiano da maioria dos professores. Já entre os alunos verificamos que estes não se importam com a aprendizagem, brincam o tempo todo e são descompromissados – não necessariamente nessa ordem.

É lamentável, mas, sinto que estamos, nas salas de aula, desperdiçando esperanças.