Artigo

A tragédia do cacau!

A nossa verdadeira Copa ainda está por vir: as eleições de 5 de outubro. Por isso estejamos atentos, pois, como disse Millôr Fernandes (1923-2012) “o futebol é ópio do povo e narcotráfico da mídia!”.E as lutas continuam, a despeito das ilusões. Por isso, trago notícias sobre ocacau e notadamente sobre o documentário “O nó: ato humano deliberado” dirigido por Dílson Araújo.E elas vêmatravés do professor ShawnSmallman (PhD, Yale University) especialista em segurança internacional, que escreveu um artigo sobre o referido documentário.Vejamos:

“Assisti ao vídeoque procura descrever o impacto da vassoura-de-bruxa e também como o estado brasileiro falhou em investigar adequadamente o crime. Mais do que um filme, o vídeo representa um importante documento histórico que contém evidências e testemunhas, sobre aqueles acontecimentos, durante os anos de 1989/90.Uma das crenças comuns sobre a vassoura-de-bruxa era que ela tivesse sido introduzida, deliberadamente e que o motivo, provável,seria político.

No filme um dos entrevistadosfalou que a maioria dos produtores de cacau, mais de 90% deles,possuíamenos de 100 hectares de terra. Descreve-se, também, em detalhes o impacto terrível que a vassoura-de-bruxa teve numa região com mais de três milhões de habitantes. E uma mulher contou que seu marido se suicidou porque tinha sido financeiramente arruinado pela praga. A devastação na região foi enorme, talvez 200 mil pessoas tenham perdido seus empregos e muitas outras foram forçadas a se deslocar para as cidades. Pessoas diferentes falaram de suas perdas, destacando-se uma imagem concreta dos custos econômicos, sociais e ambientais desta tragédia. Após o colapso da produção do cacau, os produtores, muitas vezes, voltaram-se para a venda de madeira das suas propriedades, o que causou uma perda dolorosa da Mata Atlântica, uma das florestas tropicais mais ameaçadas do planeta.

Há,no documentário, uma discussão detalhada de como a vassoura de bruxa foi introduzida, deliberadamente, por funcionários da CEPLAC, órgão federal criado para apoiar a produção do cacau. Uma testemunha após a outra fala sobre o acontecido, incluindo um notário da CEPLAC, que encontrou um saco de galhos de cacau infectados com vassoura-de-bruxa e que fora deixado em cima de sua mesa,no seu escritório, com um bilhete desagradável. Dílson Araujo inclui imagens de um ex-funcionário da CEPLAC confessando o crime. Sua confissão é impressionante. Mas ele está dizendo a verdade? E por que ele confessou? Se for verdade, quem lhe pagou a quantia de dinheiro que ele recebeu? Qual foi mesmo a sua motivação? Infelizmente nós ainda não sabemos, porque o governo brasileiro realizou a mais superficial das investigações.

O filme não só descreveu um ato de terrorismo, mas também mostrou os riscos da globalização biológica. E embora seja muito bom que o documentário esteja no Youtube, ele também merece estar nas mãos de um distribuidor excepcional de documentários (Bullfrog– http://www.bullfrogfilms.com). Seria um filme importante para usar em cursos sobre a América Latina, o Brasil, o sistema alimentar moderno, a segurança e as questões ambientais”.O mundo, portanto, conhece a tragédia do cacau!

Sobre este artigo do professor ShawnSmallmane seus desdobramentos o presidente do Instituto Pensar Cacau (IPC), Águido Muniz,declarou: “o documentário é uma obra atemporal e serve de alerta a outros países quanto à prática do bioterrorismo, comprometendo a segurança alimentar mundial.Reforça também a necessidade de uma providência do estado brasileiro na apuração dos fatos,sob o risco de que o país fique em uma situação vexatória frente à comunidade internacional. O IPC se sente fortalecido em sua luta com a repercussão deste artigo”.

Ficamos por aqui, por enquanto, com outra pérola do grande Millôr Fernandes: “a vida é igualzinha ao futebol.Mas o campo não é demarcado, vale impedimento, a canelada marca ponto a favor, a bola é quadrada, o gol não tem rede e o Supremo Juiz é um ladrão que expulsa do jogo quem bem entende, sem qualquer explicação”.