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A influência do distanciamento social no aumento da violência doméstica

Estar em distanciamento social no domicílio pode ser um momento de maior interação familiar porém, essa não é a realidade para algumas pessoas. Afinal, os recentes dados mostram que é no próprio lar que muitas mulheres e meninas correm perigo.

Segundo os dados do Disque 180, do Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, no Brasil houve um aumento de 9% no número de denúncias de violência contra a mulher. Na Bahia houve um aumento de quase 54% no número de casos, foram 95 denúncias de violência doméstica na Bahia em março contra 146 até o dia 19 de abril. Vale ressaltar que o Brasil é o 5º país do mundo com maior número de casos.

É fato que a Pandemia de forma isolada, não é a determinante do preocupante índice acima apresentado. Tanto os divórcios quanto a violência doméstica antecedem a quarentena todavia, tais picos ratificam determinados efeitos colaterais do distanciamento social. Seja na vida a dois ou entre demais membros da família, a convivência é algo desafiador. Sustentar a harmonia familiar em tempos de pandemia, onde as incertezas e dificuldades causadas pela situação, ocasionam desordens psicoemocionais como a ansiedade, a preocupação e o estresse, não é tarefa das mais simples contudo, está longe de ser justificativa para a violência.

Ter o direito de ir e vir restrito por si só causa tensão, além disso, muitas famílias estão sem renda durante esse período, esse cenário torna-se favorável ao desencadeamento de brigas e desentendimentos dentro de casa, o excesso de convivência repentina ao qual a maioria das famílias de forma abrupta estão sendo “forçados” a viver, tem potencial para afetar os relacionamentos, e no caso dos relacionamentos já considerados abusivos as chances dos conflitos crescerem e desencadearem violência doméstica são bem maiores. O abuso de álcool devido a ociosidade também é apontado como potencializador de atos violentos.

Ainda que pareça que estejamos todos no mesmo barco, a tripulação da primeira classe, tem os impactos negativos minimizados devido o privilégio desfrutado, todavia aos demais onde há escassez desde espaço físico, a alimentação o desafio se torna muito maior, causando diversificada formas de malefícios.

O cenário atual é tão preocupante que o CNJ Conselho Nacional de Justiça no último dia 25-04 criou o grupo de trabalho para elaborar sugestões de medidas emergenciais para prevenir a violência doméstica. Outras iniciativas estão sendo adotadas pelo Instituto Nelson Wilians que uniu-se ao Instituto Justiça de Saia e ao Instituto Bem Querer Mulher na força-tarefa JUSTICEIRAS. O projeto pretende colaborar para que a violência contra a mulher não aumente, não seja esquecida ou subnotificada durante a quarentena. O objetivo das JUSTICEIRAS é acolher, apoiar e prestar orientação técnica a distância, por meio do atendimento virtual meninas e mulheres vítimas de violência doméstica.

Estamos vivendo um momento atípico onde, mais do que nunca, é preciso se colocar no lugar do outro e ser mais paciente, é um momento de olhar para o outro, mas também de cuidar de si. Lembre-se, o seu apoio é fundamental para interromper esse ciclo de violência. Através do 180 é possível ligar e fazer uma denúncia online.