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Precisamos falar sobre a saúde do homem

Estudos do Ministério da Saúde apontam que os homens não costumam fazer exames preventivos, e em média 60% deles procuram por um serviço médico apenas quando as doenças já estão em estado avançado. Há certa resistência em cuidar da saúde de forma preventiva, reflexo esse de uma questão cultural, perpassada por gerações.

Vivemos em uma sociedade que de forma latente exige que o homem seja forte, não demonstre aflições ou inseguranças e dê conta das suas dificuldades sozinhos. Assim, desde a mais terna idade, os meninos não são estimulados a observarem seu corpo ou suas emoções. Deste modo, na busca pela saúde masculina, faz-se necessário quebrar barreiras culturais que impedem os homens a falar de si, auxiliando-os a buscar ajuda antes do problema ser estabelecido, sendo fundamental investir na divulgação dos fatores de risco e exames preventivos a serem realizados, de acordo a faixa etária. A cultura da prevenção deve ser estimulada por todos, possibilitando a compreensão de que buscar auxílio e cuidado de si não é sinônimo de fragilidade.

Iniciado na Austrália em 2003 e difundido internacionalmente como Novembro Azul, durante todo o mês são intensificadas as ações em combate ao Diabetes e ao Câncer de Próstata. Sendo o segundo voltado para a conscientização do público masculino a respeito desta patologia que é uma importante causa de morte entre os homens. A expectativa é que as campanhas anuais de conscientização incentivem os homens a buscarem de forma precoce os serviços de saúde, ampliem o conhecimento sobre essa neoplasia bem como, visa quebrar tabus, uma vez que o câncer de próstata é sempre tratado com muito preconceito pela maioria dos homens, principalmente em razão da realização do exame clínico (toque retal). Fato esse que procrastina a procura ao urologista e consequentemente o diagnóstico tardio.

Além de possuir maior risco de morbimortalidade, a construção social sobre o que é ser homem permite que muitos deixem de procurar ajuda quando passam por situações de sofrimento psíquico. Claro que, quando falamos de pessoas, devemos salientar que existem diferenças. As personalidades e características não são determinadas apenas pelo sexo de nascimento, são também construídas e reveladas à medida em que nos relacionamos com as outras pessoas e com o mundo ao redor.

Contudo, a generalização em relação ao que seria esperado do homem pode levá-lo a deixar de expor dificuldades enfrentadas, negando sua singularidade em relação ao modo como vivencia situações desafiadoras, mudanças ou mesmo quando sente-se inseguro e com dúvidas sobre suas escolhas. Para superar os entraves gerados pela concepção universal do que é ser homem em nossa sociedade, é preciso fazer uma reflexão profunda. Compreender que o papel que nos foi ensinado é, na verdade, uma construção social, que não corresponde necessariamente à realidade. Faz-se necessário compreender que ser homem é bem maior do que quaisquer estereótipos. Afinal, não se deixa de ser homem por solicitar auxílio a um amigo, por ir ao psicólogo, ao médico ou por demonstrar sentimentos e emoções.