Artigo

Duas cartas, dois veredictos

Há um ditado que diz: as cartas não mentem. Será verdade? Será mentira? Para uns sim; para outros, não. Mas pelo sim ou pelo não, vamos aos fatos que esta história nos conta.

                          Os casais. Ah! Sempre os casais. De um ou do outro, ou de todos os dois. Ou de quase todos os casais, infelizmente. Quantas histórias infelizes, com particularidades desconhecidas, de antes ou depois das núpcias? A alcova sem o amor, forja um lar sem harmonia, com graves consequências para si e para a sociedade.

                          A mentira por omissão pode ser necessária e saudável, por deixar encoberto fatos precipitados, ocorridos com as pessoas que procuram refazer a própria existência. Mas esse recomeço deve ser pautado no autoconhecimento e no respeito sincero consigo e com o futuro parceiro, sem que nenhum dos dois queira tirar do outro qualquer tipo de proveito.

                         A relação deve se limitar ao respeito mútuo, ao amor e a atração física, sem nenhum outro ingrediente, nem mesmo o do poder econômico. A ideia de que o homem tem que dá tudo à mulher, deve ser coisa do passado, principalmente quando já se atingiu a idade para quem sonhar, com chance de êxito, só é possível com a cabeça e os pés no chão. Mas, infelizmente, isso nem sempre acontece. O que ocorre é um mar de ação e reação negativas, de origem grave e de drásticas consequências.

                        Foi o que aconteceu. Depois de alguns anos de uma relação conflituosa, cada um dos consortes, pondo em dúvidas a vida pregressa e atual do outro, buscou ouvir o que as cartas diziam. Não se sabe de quem partiu a iniciativa, mas como o marido era dado mais à metafisica, acreditava-se que ele as escutou primeiro.

                       Não ficou surpreso com o que as cartas lhe disseram, cujo caráter depreciativo já imaginava, mas indignado com certos detalhes por elas revelados, fazendo segredo destes, por muito tempo afora.

                       O baú das mazelas dele também foi aberto, a pedido da mulher, que se fizera igual consulente. No dia da consulta, ela estava acompanhada de um ente querido, que ouviu tanto as perguntas feitas, quanto as respostas dadas; enquanto aquelas sempre foram formuladas com a intenção de o incriminar, estas, como se fossem ditas pela sua própria defensa, sempre tinham o condão que o absorvia.

                          A pretensão de tê-lo a ela equiparado, levou-a a repetir as mesmas interrogações, sendo advertida pela cartomante:

                        – Eu não respondo a mesma pergunta mais de duas vezes, sem cobrar mais um adicional sobre o valor da minha consulta.

                        A consulente reconheceu para si mesma, que agira assim tão destemperada.  Não admitia ter ouvido aquelas respostas que o inocentava, nem sabia que o seu marido tinha colocado, também, as suas cartas sobre a mesa.