Artigo

Hanseníase

A hanseníase, outrora conhecida como lepra, desde os tempos bíblicos é estigmatizada. É uma doença que afeta principalmente a pele e os nervos periféricos. Inicialmente, surge uma mancha de cor esbranquiçada, mas pode também se apresentar avermelhada. É indolor, não apresentando coceira. Essas características traduzem o comprometimento das terminações nervosas.

Certa vez apareceu no meu consultório, quando clinicava numa cidade do sertão da Bahia, um mecânico de automóveis com uma extensa ferida já infectada no braço direito. Segundo ele, durante o serviço consertando o motor de um caminhão, apoiando o braço direito nas diversas estruturas do motor, não sentira nada. No dia seguinte, o membro já apresentava sinais de inflamação. A ferida, que se estendia por cerca de 20 centímetros de comprimento por oito de largura, fora tratada nas quarenta e oito horas seguintes com infusão de ervas.

Como na região em que eu trabalhava, a hanseníase era endêmica, solicitei ao paciente que retirasse a camisa. Seu tórax, principalmente as costas, estavam cheias de manchas esbranquiçadas e indolores. É preciso ressaltar que o motor, em que trabalhava o paciente, devido à ignição que estava sempre ligada, obviamente estava quente.

.Na hanseníase, o sistema imunológico tem muito a ver com o aparecimento da doença ou não. É comum ocorrerem casos de enfermidade em que um dos cônjuges, embora habitando o mesmo teto há anos, somente um deles adoece. Seu contágio, diferentemente da tuberculose, é raro.

Há quatro formas em que a doença aparece. Nas formas indeterminada e tuberculóide há só as manchas indolores e não é possível detectar na linfa, através do microscópio, os mycobacterium leprae. Nas formas dimorfas e virchowianas, além das manchas, a face do paciente pode estar edemaciada, inclusive as orelhas. Destas, cheias de linfa, uma parte do sangue rica em células de defesa, são de onde se retira um pouco da linfa para pesquisar a presença do bacilo da hanseníase. Como o pavilhão auditivo está bastante edemaciado, o povo das áreas endêmicas chamam a enfermidade de a doença das orelhas compridas. Nas duas últimas formas- a dimorfa e a virchowiana -, em virtude da baixa imunidade do enfermo, o mal progride e os pacientes podem apresentar os dedos das mãos em garra e outras deformidades como amputações dos dedos dos pés. Daí, os pacientes devem andar sempre calçados e fazer a higienização dos pés para evitar o surgimento de feridas.

Como foi dito acima, toda pessoa que apresentar em qualquer área do corpo manchas indolores, dormência, insensibilidade deve ser encaminhada ao médico, de preferência ao médico especialista.

Antes do advento dos antibióticos, a enfermidade seguia seu curso, deixando os pacientes confinados e transmitindo-a à comunidade. Os antimicrobianos mudaram esse curso e hoje ela é perfeitamente curável.

Para finalizar, cito um caso de uma jovem, temerosa de ser reconhecida pelas pessoas, que sempre me procurava à noite para receber a medicação. Uma vez ela confessou-me que pretendia suicidar-se. Aconselhei-a procurar certa cidade, onde também se tratavam hansenianos e refugiar-se em Deus, pai de infinita misericórdia, que jamais abandona seus filhos e filhas.