Artigo

As despedidas

Aos amigos e amores!

As despedidas me comovem. As despedidas ainda me comovem e me fazem penar. Por mais que as viva, por mais cotidianas que sejam, por mais triviais que aparentem, abalam as minhas estruturas emocionais e sentimentais.

As despedidas fazem sofre a alma, borbulham o sangue, fervem a mente, embrulham os intestinos. Parece que ao se despedir, morre um pouco de nós mesmos. E essa parte morta teima em aparecer como espectro sem formas em lembranças, como algo palpável e ao mesmo tempo distante. Eu nunca me acostumei com despedidas.

Toda vez que me deparo com uma desce aquele frio pela barriga, a saliva parece pão duro que engulo – sem molhar a garganta –, os olhos teimam para o chão, as mãos transpiram como se fossem tocar um fantasma! O pior: as palavras, as malditas palavras, não fluem como gostaria que fluíssem. Balbucio quase sempre algo inteligível e, até mesmo, incabível para o momento dos “adeuses”. Não adianta dizer que não me apego aos bens materiais, às pessoas, às circunstâncias. Não me convenço de que é apenas momentâneo. Não consigo me iludir por alguns instantes.

Vivo aquilo como se fosse uma experiência única e primeira. Sinto todo o turbilhão de sentimentos se roçarem em mim. Na hora do abraço final, do beijo de despedida, do aperto de mão, o ritual do desespero interno se apodera de mim quais unhas de tigre rasgando as minhas entranhas! Mas, eu cá com meus botões de pseudo-esperto desenvolvi uma técnica simples e que me ajuda bastante nessas horas difíceis. Trata-se do seguinte: quando me vejo só, quando ninguém olha, quando ninguém espera, dou uma disfarçada e boto sebo nas canelas…

Fico aliviado quando já vou longe e não tive que me despedir de ninguém. O lado ruim dessa fugida estratégica é ser visto por mal-educado, coisa, aliás, que em alguma(s) oportunidade(s) da minha vida eu serei mesmo. Que seja, então, nos momentos necessários! Ah! Existem, entretanto, despedidas piores. Contarei apenas duas, as que considero mais doídas e confusas. A primeira é a da morte de algum ente querido. Aquela pessoa que conviveu conosco e, de repente, não existe mais neste plano da existência. Sobraram apenas lembranças em fotos ou na memória falha e difusa. A segunda é quando me despeço de alguém que amo muito e que se vai… para outra cidade distante, para outro Estado, para outro país. Êita, que bate uma tristeza, uma melancolia, um misto de saudade com esfacelamento, chão duro e azedume! É uma sensação diferente e espiritualmente complicada, pelo menos para mim.

Acaso pode existir um ser que tenha se acostumado com essas horas difíceis das despedidas?

Essa passividade ou costume passa distante de minha cabeça e do meu coração, pois a cada dia martirizante que passa, as despedidas me comovem mais, ainda mais, e… eternamente!