Artigo

Formação da Competência Leitora – I

As práticas de leitura, vinculadas à interpretação e produção textual, devem acontecer numa relação de interdependência e intercomplementaridade, em todos os níveis, inclusive nos cursos técnicos e universidades, e em todas as áreas (não somente em Língua Portuguesa). Desse modo, é que se faz imprescindível a formação da competência leitora, uma vez que, a partir dessa competência, as práticas de leitura e produção textual deixariam de ser consideradas tarefas escolares mecânicas, superficiais, um simples treino de decodificação, para serem formas de integração do aluno com a vida de seu meio social.

Muitas das vezes, o que se percebe, nas aulas de Língua Portuguesa, é que a leitura perde o seu estatuto de objeto de ensino para se tornar uma atividade a serviço de outras aprendizagens. Por isso, acontece que normalmente não se considera a organização estratégica da leitura como um conjunto de competências que deva fazer parte do objeto de uma aprendizagem.

Contrapondo a essa visão, Braga e Silvestre (2009), em seu livro Construindo o leitor competente, entendem a leitura (leitura do mundo, na concepção de Paulo Freire) como o caminho para a apropriação do saber e, consequentemente, para a construção do conhecimento que transforma e atua. Assim, a leitura exige um trabalho efetivo de formação de leitor competente. Nessa perspectiva, a leitura é tomada como parte da interação verbal escrita, pois implica a participação cooperativa do leitor na interpretação e na reconstrução do sentido e das interpretações pretendidas pelo autor.

Para as autoras, num trabalho com a leitura em sala de aula, além de se selecionar o texto e estabelecer a intenção da leitura, o professor de LP deve percorrer três etapas para se construir o leitor competente: a pré-leitura – momento em que se ativa o conhecimento prévio do aluno-leitor, mediante habilidades de investigação; a leitura descoberta – fase de reconhecimento do código, da projeção dos conhecimentos do leitor sobre o texto, da verificação de hipóteses, da construção de sentidos; e a pós- leitura – momento em que o aluno-leitor poderá utilizar criticamente o sentido construído, refletir sobre as informações recebidas e, assim, construir conhecimento.

Em suma, levando em consideração as etapas supracitadas, o professor poderá: promover leitura de textos autênticos, reais, em que há claramente uma função comunicativa, um objetivo interativo; explicitar para os alunos por que ele é convocado a ler aquele texto; explicitar as regras, os procedimentos, corrigir as falhas, elogiar os acertos, propor desafios, até o aluno ter competência para ler e interpretar sozinho. É importante também, na interpretação oral e/ ou escrita, priorizar a dimensão global do texto, a fim de desenvolver competências que levem o aluno a identificar noções-núcleo, facilitando a identificação do tema ou da ideia central, a partir do seu repertório prévio do saber.
A leitura se tornará plena quando o leitor interpretar os aspetos ideológicos do texto, das concepções que, às vezes, sutilmente, estão embutidas nas entrelinhas. Além disso, as oportunidades dessa prática devem variar, pois os textos propostos podem ser de gêneros diferentes, bem como com objetivos variados, fortalecendo ainda a atenção dos alunos para as diferenças lexicais e morfossintáticas entre o texto falado e escrito formal.