Artigo

Tolerantes ou acomodados?

“Não aguento mais viver, eu não tenho amigos… meus pais nunca estão presentes para mim. Eu me odeio, sou imprestável, não mereço e não quero estar viva…” (M.C. A, 13 anos, BA.). Este depoimento é de uma adolescente que apresenta sintomas compatíveis com Transtorno do Humor, estava em atendimento em um Programa Social, centenas de jovens encontram-se na mesma situação, sofrem de forma silenciosa, um desses jovens pode estar bem aí ao seu lado. Podendo, inclusive, ser seu filho. Registrada e descrita desde a antiguidade o que chamamos de transtornos do humor atinge a humanidade há milhares de anos. Existem referências a esses transtornos em vários textos antigos datados de 400 a.C., nos escritos de Hipócrates, Platão, Shakespeare, Homero e no Antigo Testamento onde é descrita a natureza depressiva do rei Saul. Na atualidade o assunto ultrapassou o universo acadêmico tornando-se motivo de numerosas reportagens, blogs específicos, livros, conversas entre amigos…, mas afinal que doença é essa capaz de suscitar tantos questionamentos sobre a condição humana?

A depressão é uma doença grave e limitante, representa uma das principais causas de sofrimento psíquico, é democrática, acomete pessoas das mais diversas personalidades, atinge qualquer faixa etária, suas causas são complexas, podendo ocorrer por: fatores biológicos (desequilíbrio entre neurotransmissores), por herança genética, ou vir de fatores ambientais e/ou psicológicos, atingem o corpo como um todo, afetando o humor, os pensamentos, a saúde e o comportamento. A característica mais comum desse transtorno é a presença de humor triste, vazio ou irritável, acompanhado de alterações somáticas e cognitivas que afetam significativamente a capacidade de funcionamento do indivíduo. Cabe ao médico especializado em Psiquiatria finalizar o diagnóstico e mensurar a gravidade do transtorno, no que diz respeito ao tratamento a tríade básica é: a terapêutica medicamentosa (que incluem os antidepressivos, os estimulantes, estabilizadores de humor, os ansiolíticos e os antipssicóticos), a psicoterapia (as linhas psicoterápica possuem proposta diferente de tratamento, contudo a terapia cognitivo-comportamental demonstra inquestionável eficácia ao tratamento) e outras terapias biomédicas como a EMTr – Estimulação Magnética Transcraniana e o ECT – Eletroconvulsoterapia sendo esse utilizado como última alternativa. Vale ressaltar que a precocidade do tratamento é fundamental para o sucesso terapêutico. O DSM-IVTR – Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais reconhece oito categorias do Transtorno.

De acordo a OMS – Organização Mundial de Saúde o número de pessoas diagnosticadas com depressão aumentou 18,4% entre 2005 a 2015, a previsão é de que até 2020 seja a maior causa de incapacidade no mundo, sendo que o Brasil é o país mais depressivo da América Latina, a prevalência maior ocorre entre as mulheres 28%, seguida pelos jovens entre 14 a 25 anos onde 21% apresentam sintomas indicativos de depressão, 10% da população mundial irá sofrer de uma doença depressiva em algum período da vida. Ainda segundo a OMS a média de falta no trabalho de um indivíduo com depressão é de sete dias por mês, enquanto a média geral é uma vez a cada 30 dias. Os baixos níveis de reconhecimento, e o estigma associado ao transtorno fazem com que muitas pessoas confundam a depressão com a tristeza. Estar triste nem sempre significa estar deprimido, tristeza é sentimento passa, depressão chega e se instala.

É um transtorno, necessita de tratamento adequado. Portanto, fique atento e procure ajuda profissional logo aos primeiros sintomas. Dicas para leitura: Mentes Depressivas – As três dimensões da doença do século.