Entrevista

Entrevista com a educadora Agenilda Palmeira, que acaba de completar 61 anos de dedicação à educação regional

1- DIREITOS – A Senhora acabou de completar 61 anos, portanto, tem uma vida dedicada ao magistério. Porque optou em ser educadora? Sofreu algum tipo de preconceito? Valeu a pena?

AGENILDA PALMEIRA – Porque educar é um ato de fé e minha vida desde criança foi pautada na fé. Lembro-me que bem pequena pegava os bobes de minhas irmãs mais velhas e colocava-os como alunos e ali na humilde sala da casa em meio do rico momento do brincar, ensinava projetando-me para um futuro. Quanto ao preconceito sim, mas isto serviu para prosseguir, costumo utilizar versículos bíblicos para erguer o ânimo como: “Esquecendo-me das coisas que para trás ficam prossigo para o alvo.” Filipenses 3:13,14. Se valeu a pena? Lógico! Acredito que o maior prazer de um professor não está simplesmente no conteúdo que ele ministra, mas no que ele vivencia com seus alunos.

2- DIREITOS – O que a Senhora acha de ser fonte de inspiração e referência para centenas de pessoas, como pessoa e professora, inclusive para seus filhos, que inclusive abraçaram a profissão de educador (a)?

AGENILDA PALMEIRA – Há uma mistura de sentimentos de alegria e temor. Sinto-me lisonjeada em não só ter palavras, mas me preocupo também em ser um exemplo a ser seguido. Meus filhos Antonilda Palmeira (Professora e Psicanalista) que além de contribuir com o intelectual dos seus alunos, promove saúde mental dos que a procuram; José Agenor (engenheiro de instrumentação/ Automação com pós graduação em Negócios Digitais inovação e empreendedorismo; Gestão energéticas e energia renováveis… atua em projetos e manutenção de sistema instrumentados e automação industrial e como professor no Paraná); Alessandra Palmeira (Professora de Educação Física e de Libras da Unime – Itabuna e da Rede Pública) realiza diversos projetos e atividades voltadas a inclusão das pessoas com deficiência, Luta pelos seus direitos junto a AGP promovendo acessibilidade esportiva como Basquete em cadeira de rodas e com a Comunidade Surda da região promove encontro de surdos, difunde a Língua Brasileira de Sinais e palestras esclarecedoras sobres as necessidades das Pessoa Surdas; e Adriane Palmeira (Professora e Auxiliar administrativo FAEL) Todos eles absorveram o prazer de ensinar.

3- DIREITOS – Como foi a sua experiência na rede pública estadual, primeiro como professora e depois como dirigente escolar?

AGENILDA PALMEIRA – Na rede pública iniciei com concurso público fui locada inicialmente na Escola Fernando Cordier em 1968 como estava grávida de meu segundo filho foi-me concedido uma “licença maternidade” e em 1969 fui transferida para Escola Rotary de Itabuna onde permaneci até me aposentar. Como professora ensinando aquelas crianças da 4ª série do ensino primário dando ênfase ao que era útil para o momento. Posteriormente alcancei a gestão da Unidade Escolar onde tendo as séries iniciais começados em parceria com o Rotary Club da época a oferecer capacitações para a comunidade carente do bairro Santo Antônio tivemos a participação de vários professores voluntários inclusive rotarianos.
E com a grande aceitação levamos a Diretoria Estadual de Educação (Direc 7) na pessoa da Professora Hedeilda, Maria Amélia e Professor Francisco, a proposta da abertura do turno noturno da Escola Rotary de Itabuna onde começamos com as classes de aceleração e posteriormente as modalidades de Educação de Jovens e Adultos. Com o Plano de Desenvolvimento da Escola nos tornamos escola de referência com os secretários Edilson Freire e Eraldo Tinoco ampliando também para o ensino Médio. Dificilmente havia vaga para ser ofertada no início do ano letivo pois a própria comunidade trazia mais alunos, eram mães voltando a estudar por conta do aprendizado de seus filhos… chegamos a ter pelo menos três gerações estudando no colégio, avós, mães e filhos foram momentos muito abençoados. A escola Rotary era fisicamente pequena, mas grande em protagonismo.

4- DIREITOS – A Senhora é pioneira na cidade em cursos preparatórios para concursos e com altos índices de aprovação. Quais foram os primeiros e em que ano começaram os primeiros cursos?

AGENILDA PALMEIRA – Os primeiros concursos foram preparatórios para admissão no início da década de 60 (era semelhante a um vestibular e garantia o acesso a série subsequente). Com o avanço no ingresso do Serviço Público fomos a pioneira em preparação para concursos públicos tendo alunos de toda a região.

5- DIREITOS – Sabemos que todos os alunos são importantes, mas a Senhora destaca alguns que aproveitaram a oportunidade e hoje são referências em suas áreas de atuações?

AGENILDA PALMEIRA – Inúmeros, não daria tempo de citar, porém eis aqui alguns deles: Alpeno Rocha hoje aposentado do Banco do Brasil, Adelson Brandão Caixa Econômica Federal (hoje em Salvador); Dra. Maisia Carvalho Juíza Federal; Albérica Oficiala da Justiça; Alan Góes Promotor de Justiça; Gilson Nascimento Secretário no município de Ilhéus, Ângelo Banco do Brasil (hoje no Espírito Santo); Thales Messias no Banco do Nordeste; Dalmo Palmeira foi funcionário do Banco do Brasil, Ministério do planejamento, Câmara dos Deputados, Fundo Monetário Internacional – FMI, secretário de planejamento do Governo do Distrito Federal e hoje trabalha na assessoria econômica do Senado Federal e tantos outros que têm construído uma história de sucesso e por tanto modificado a história do nosso País.

6- DIREITOS – No ano de 2011, a Senhora recebeu o prêmio “Mérito Educacional”, que tem como critério o de reconhecimento pelos altos feitos dos professores na área de ensino e na formação de jovens, que hoje são médicos, advogados, jornalistas, pedagogos, empresários etc. e trazem o desenvolvimento e o progresso de Itabuna e região. Como foi para a Senhora receber esse prêmio-reconhecimento?

AGENILDA PALMEIRA – Primeiramente agradeci a Deus e posteriormente aos colegas que como eu se dedicam ao lindo trabalho de transformar vidas através do ensino.

7- DIREITOS – Neste mesmo ano a Senhora foi eleita para a Academia Grapiúna de Letras (AGRAL), onde ocupa a Cadeira de nº 10, que tem como patrono o romancista e historiador literário Afrânio Peixoto, que também não deixa de ser um reconhecimento de anos dedicados a educação regional. Como é ser membro da (AGRAL), primeira academia de letras de letras da cidade?

AGENILDA PALMEIRA – É um desafio… produzir cultura para nossa região estimular nossa sociedade faz-me pensar no desafio “oh bendito que semeia livros, livros a mão cheia e faz o povo pensar…” a AGRAL chegou em minha vida como uma maravilhosa oportunidade de contribuir com nossa sociedade tão carente de leitura e de bons leitores, quando percebi que além de literatura ela contempla múltiplas vertentes por termos blogueiros, representatividade da arte e da cultura a responsabilidade em aceitar o desafio só me fez crescer. As palavras que definem o pertencimento a AGRAL está em amar a Deus sobre todas as coisas e servi ao próximo como si fosse qualquer um de nós, ou seja amar as pessoas antes de amar que faço.

8- DIREITOS – Durante anos foi colaboradora do jornal AGORA e a mais de 8 anos assina a coluna Reflexões no jornal Direitos impresso e on line. Como tem sido essa experiência para a Senhora?

AGENILDA PALMEIRA – Uma aventura fascinante… quando recebi o convite do setor editorial do jornal Agora eram publicações semanais, inicialmente percebi que havia pouca literatura para concursos e passei a produzir textos técnicos como motivacionais para este público, mas outras demandas foram surgindo, atualidades, emoções e sentimentos… tantos textos produzidos que acabei enveredando para a área das reflexões de ordem filosófica e social do jornal DIREITOS algo que me deixou grata pois estaria retornando a um mundo (jurídico) de muitos que passaram por minhas mãos tanto para ingressar na universidade no exame da Ordem (OAB) ou no serviço público através dos diversos tribunais. Neste momento me tornaria aluna deles e muito aprendi e tenho aprendido inclusive com o corpo diretivo do Jornal DIREITOS.

9- DIREITOS – Quais são as dicas/conselhos que a Senhora pode dar aos novos educadores para que sejam bem sucedidos na profissão?

AGENILDA PALMEIRA – Estamos vivendo uma pandemia e a Covid 19 vai reorganizar todo o cenário educacional. Preparem-se para as incertezas, estudem, atualizem-se. Mas entendam que esta mudança não será profissional… precisamos nos tornar pessoas melhores, mas sensíveis ao sofrimento alheio…. viver o que o que está escrito na Bíblia chorai com os que choram e alegrai com os que se alegram é prerrogativa indispensável. O mundo não é e não será o mesmo e muito menos nós. Vamos aprender a tocar a alma humana com sensibilidade.

10- DIREITOS – Qual a mensagem que a Senhora deixa a juventude regional com relação aos seus sonhos e projetos acadêmico-profissional?

AGENILDA PALMEIRA – Sejam como águias e não como lesmas que se arrastam. Façam da dificuldade mola propulsora para realização de seus sonhos. Mas tenham sonhos bons, que tornem vocês pessoas melhores… esqueçam o passado, principalmente se ele não lhe faz crescer, traga a sua memória aquilo que lhe dá esperança e rume firmemente para o futuro.