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Professor: Profissão de Risco

O depoimento do adolescente J. ao repórter Osvaldo Bispo, no programa O Crime não Compensa (Difusora), ontem, deveria ser gravado e distribuído a todas as autoridades. Não de Itabuna, mas do País. Em frases curtas, expressadas com desinteresse, frieza e cinismo, o menor contou porque agrediu e ameaçou a vice-diretora do Colégio General Osório. Ele negou a intenção de matar, embora tenha sido flagrado tentando entrar no colégio com um revólver calibre 32.

J. contou que agredia e ameaçava a professora porque ela estaria “abaixando” suas notas.

Depois admitiu que tirava notas baixas pelos seus próprios (de) méritos, mas exigia que quem o avaliasse desse uma melhorada na situação.

Como não conseguiu isso, o pequeno delinquente de 14 anos idealizou matar a professora.

A vítima do infrator (para usar uma terminologia do Estatuto da Criança e do Adolescente) também falou ao repórter. Apesar da aparente tranquilidade, revelou medo. Não daquele agressor em particular, porque ele não passa de um mero exemplo da situação que está se tornando tragicamente comum nas escolas da rede pública.

Os protagonistas são jovens normalmente criados em lares desestruturados, sem referência familiar, jogados na escola como se esta fosse a única responsável pela sua educação.

Na opinião da vítima, a atividade do magistério é hoje uma profissão de risco, quase da mesma forma que a função de um policial. Infelizmente, agressões e ameaças a professores já não são novidade em nenhuma escola pública do Brasil. E basta passar alguns minutos com qualquer guerreiro de sala de aula para se ouvir relatos escabrosos.

A vice-diretora do General Osório sugere que cada escola funcione com a presença constante de um soldado da PM, o que daria apenas uma falsa sensação de segurança.

Não vai demorar a surgir alguém que aconselhe a instalação de sistemas de videomonitoramento nos estabelecimentos de ensino, para identificar e punir mais rapidamente os que procuram retribuir o vermelho dos boletins com um olho roxo no professor.

Medidas de vigilância e punição são o que vem à tona neste momento, que é quase de pânico.

Mas é preciso também estimular um debate sobre o modelo de sociedade em que estamos vivendo. Talvez sejamos o povo que mais conformadamente aceite a desigualdade e a miséria da maioria, que são as causas maiores da formação de adolescentes desequilibrados e capazes até de matar.

Nos bairros pobres de Itabuna, é crescente o número de mulheres que mal passaram dos 30 anos e já são avós. Tiveram filhos ainda crianças e viram suas crianças terem os delas.

São gerações nascendo e se criando sem referências, em muitos casos entregues às ruas, sendo adotadas por marginais. É uma indústria que produz em escala crescente e as consequências serão cada vez mais assustadoras.

Em tempo: o revólver calibre 32 com o qual J. Pretendia matar ou assustar a vice-diretora do General Osório pertenceu ao irmão dele, que tinha envolvimento com o crime e foi assassinado.

A arma, juntamente com a falta de princípios e o instinto violento, ficou de herança para o irmão menor.