Artigo

As Lutas de Poder

Outro dia estávamos discutindo com um professor de geografia, muito inteligente e articulado por sinal, sobre o destino da atual humanidade.

Levantávamos uma hipótese a respeito das cópias que são feitas de classe para classe: os miseráveis, base da enorme pirâmide da desigualdade social, quer imitar os anseios da classe média, que por sua vez quer incorporar os melindres, princípios e gostos da aristocracia, topo da mesma pirâmide, que inventa moda a todo instante para fugir dos plágios sofridos.

Não é difícil perceber isso fazendo um olhar histórico do assunto. A assertiva de Marx e Engels no primeiro parágrafo do capítulo 01, Burgueses e Proletários, do Manifesto Comunista, é o pontapé inicial para a reflexão: “A história de todas as sociedades que já existiram é a história de luta de classes.” A idéia marxista de categoria social, ou extrato social, pode ser interpretada hoje de diversas formas. Uma dela é a tentativa dos que estavam de fora do comando, pelo poder de mandar.

Quando se desmoronou o Império Romano o mundo se transformou num enorme feudo comandado por aristocratas e pelo clero. Permaneceram assim por quase 12 séculos, até que o burgo francês e os trabalhadores britânicos lutassem para mudar essa história. Dessa forma, iniciando uma série de mini-revoluções pelo mundo, passando o poder político e econômico de mão.

A burguesia subiu às governadorias, criando repúblicas, algumas democraticamente incipientes, outras nem tanto, mesmo assim colocando o ideal de democracia, pelo menos, nas rodas de discussão ou como um sonho a alcançar.

Agora, em pleno século XXI, o povo já não enxerga com tanto mistério a vida politizada e cidadã. Depois da onda operária russa, cubana e asiática, o proletariado também reivindica o seu lugar nos postos de comando. O povo quer subir ao trono, colocar um seu semelhante por lá. Ou seja, a profecia de Marx e Engels, por esse viés, realiza-se perfeitamente até os dias atuais.

E depois do povo no poder, o que restará?

Não seria nenhuma novidade que os mais miseráveis, os famélicos, os excluídos, os catadores de restos do capitalismo subissem ao cume dos altos cargos públicos através das lutas revolucionárias e do mérito pessoal de cada um, afinal de contas são extratos sociais que englobam grande massa e um punhado de gênios sem oportunidades, porém que ainda não descobriu a sua força.

Espantoso e quase impossível que um militante campesino hoje, por exemplo, chegue à presidência da república, ou do senado, ou do STF. Mas, e amanhã? Com as sociedades se rebelando, modificando-se, lutando e agindo, como bem atesta a máxima comunista, nada se tornaria utopia, quiçá mera questão de tempo para a sua efetivação.

No Brasil e em alguns países da América do Sul o fenômeno poderia ser realizado já no início deste século, não fossem as instituições tão viciadas e inescrupulosas. O presidente Lula, retirante pernambucano, torneiro mecânico e sindicalista, poderia ser o elo entre a sociedade e o povão que está abaixo da linha da pobreza, de onde ele veio. Entretanto, sentimos que esse governo que aí está ainda é de transição, não é o que gostaríamos para que tenhamos mais eqüidade, menos abismos sociais. Ele só seguiu com as políticas neoliberais do antecessor, destruindo ideologia da esquerda brazuca.

O referido nordestino não teve coragem de peitar os poderosos, derrubar bocas tortas de cachimbos antigos, incentivar a politização nacional. Pelo contrário, aprofundou os erros e desacertos dos velhos comandantes, tudo em nome da governabilidade e da boa pose na foto.
Os banqueiros nunca tiveram tanto lucro. Já a turba paga até se pisar no passeio das instituições financeiras.

Por isso, não seria de se espantar que a massa, a grande população da falta de educação escolar de qualidade, da falta de saúde, da falta de terra, da falta de teto, da falta de segurança, da falta de tudo, lutasse por um lugar ao sol e conquistasse isso por dever e direito.

Ninguém olhou por eles e, sendo grande maioria da população, seria o momento então de eles olharem para si mesmos, pois só quem passou fome ou viu o filho morrer por causa disso sabe a tristeza da situação, não adianta a retórica vazia e exploradora de palanque.