Artigo

Ode à burrice Ou a burrice de ser inteligente

Nada mais enfadonho e ultrapassado hoje em dia do que querer ser gênio e alardear inteligência aos quatro cantos, demonstrando o quanto se é culto. Aquele ser estereotipado, apontado e imaginado pelos outros na rua: ele acha que é tudo na vida, só porque sabe mais! Na verdade, não há vantagem alguma e o mundo não necessita de energúmenos inteligentes, mas, sim, de pessoas ignorantes e avessas à sapiência.

Para isso, devemos, inicialmente, destruir toda forma de conhecimento legitimado: de chofre os livros. Queimá-los em grandes fogueiras, atear fogo em todas as páginas escritas, já que eles são verdadeiros tóxicos mentais, viciadores e implacáveis, moldando sempre a esperteza e a sagacidade na alma.

Assim também como de toda a Arte, supérflua e desnecessária para um mundo perfeito e feliz. Depois disso, temos que correr atrás das bruxas, ou melhor, desses supra-sumos que originam obras da discórdia e do ódio. É importante deixar de acessar sites de informação, principalmente os culturais. Evitemos, da mesma forma, a conversa sábia e desinteressada. Vamos acabar com esse submundo do crime, lugar melancólico onde são pinceladas as pusilanimidade do homem. Fechemos as universidades, as bibliotecas, as livrarias.

Ser culto é um precipício mortal – e moral! Abismo onde se aprende a pensar por si só, o que é por demais perigoso, (no mínimo leviano por parte dos poderes legítimos constituídos!); onde se vive no meio de dissabores inquietantes e elucidativos, ao som de músicas subversivas e filmes mudos, abrindo caminhos para a auto-descoberta. Aí, esse povo cult fica se metendo onde não deve, vira sabichão e às vezes prepotente. Nariz empinado, tem respostas para tudo e para todos.

Não, mil vezes não! Ninguém precisa descobrir as torpezas escondidas de si mesmo e do outro. Notadamente perto de embarcarmos com nossos comandantes no navio Brasilis quase à deriva. A ninguém é dada a onipotência, em qualquer época, de sair das cavernas platônicas, são leis certas o uso das correntes imaginárias e fortes, aprisionando as mentes e os corações para que não se enxergue a luz! Pode ser o início do fim da Terra. Gente sábia próxima a gente sábia corre o risco de gerar motim, revolta e confusão. Pode tornar o mundo gay, ou incendiado de depressão, ou todos virarem hippes drogados, ou anarquistas, simplesmente por assumirem seu eu e descerrar as cortinas do self.

Agora, antes de qualquer coisa, é imprescindível populações de neófitos pelo planeta; é inadiável o se espraiar da estupidez na humanidade inteira; exatamente o oposto do arianismo humanóide hitleriano.

Queremos a demência de todas as formas, multirracial, vendidas ou doadas de todos os tamanhos, formatos e sabores, sem deixar de lado a inclusão social. Desejamos a mediocridade já, em prol dos princípios e dos bons costumes! Abaixo a inteligência! Gritemos, irmãos, em alto e bom som: Salve a burrice! Salve a burrice!

Salve-se quem puder…