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20 de novembro, celebração da consciência negra

Ao celebrarmos mais um 20 de novembro: Dia Nacional da Consciência Negra, somos convidados a refletir sobre o mito da democracia racial no Brasil e a situação, de fato, em que se encontram os negros e negras, justificadamente, por ser Salvador a cidade mais negra fora da África.

Apesar do concentrado esforço do negro visando sua incorporação à sociedade nacional nos mais diversos setores sociais e econômicos e de sua contribuição cultural que marca de forma indelével a formação do povo brasileiro – as distâncias que nos separam dos outros grupos ainda são gritantes.

Mesmo “integrados” à sociedade brasileira, somos vítimas de forte exclusão, preconceito e discriminação social, política, econômica e cultural em todas as cidades e regiões do país.

Ao comentar o mito da democracia racial no Brasil, o pesquisador Joel Rufino afirma que “A idéia de ‘aqui não temos problemas de racismo’ está profundamente enraizada em nossas cabeças.

Convido as pessoas que ainda não crêem na ‘democracia racial brasileira’, na ‘cordialidade inata do brasileiro’ e balelas que tais, a prestarem um pouco mais de atenção à sua volta: os jornais noticiam, em média, dois casos de discriminação racial por mês; e dois casos de tortura por dia. Considerando que os jornais não apanham sequer um centésimo dos casos de fatos ocorridos, nenhum brasileiro tem do que se orgulhar nesses aspectos. Pretinhos, baianinhos, paraibinhas, índios, caboclos, jovens judeus, moças japonesas estão, neste exato momento, sofrendo alguma espécie de maltrato pelo simples fato de não pertencerem à maioria branca – maioria se comparada a cada grupo, mas minoria se somarmos todos os outros grupos […]
Então, por que boa parte dos brasileiros ainda acredita que vivemos numa ‘democracia racial’? A cabeça de uma sociedade é, em geral, feita pela sua classe dominante – com o objetivo duplo de manter seus privilégios e deixá-la dormir em paz”. (Santos, Joel Rufino. O que é racismo. São Paulo: Brasiliense).

Por outro ângulo, se observa, que o flagelo da escravidão, cujas marcas podem ser percebidas ainda hoje, foi socialmente legitimado por mitos e preconceitos.

No universo cultural resumido na Casagrande e senzalas, os negros africanos eram vistos como inferiores, possuidores de baixa capacidade intelectual e competentes apenas para desempenhar tarefas árduas e pesadas. Contudo, as inúmeras rebeliões, fugas, resistência e os quilombos, porém, logo desfizeram essa imagem.

Cabe-nos registrar, por oportuno, que no território baiano ainda existem comunidades remanescentes de quilombos em várias localidades, quais sejam: Rio Piricuri, Rio das Rãs, Andaraí, Lençóis, Rio de Contas, Cachoeira, Alcobaça, Laje dos Negros, Capão do Cedro, Brumado, Bananal, Bom Retiro, Enxu, Brasileira.

Os porões e os navios negreiros do mundo renovado dos nossos dias, ainda existem, porém, com nova configuração: nos grandes centros, os negros formam os maiores núcleos que habitam as periferias – onde são as vítimas principais da violência que ali se presencia e igualmente são submetidos freqüentemente a humilhações e constrangimentos nas ações policiais. Os homicídios por armas de fogo são a principal causa de morte dos negros.

Nesta esteira, a discriminação social atinge mesmo pessoas negras, que com muita dificuldade, tiveram oportunidade de ascensão social e que chegam a integrar camadas da população de renda mais elevada. Negros e Negras, ainda hoje, são barrados, olhados com desconfiança e revistados em shopping centers, bares, restaurantes, casas de entretenimento, bancos, em entrada de condomínios fechados, em vôos aéreos, ambientes profissionais e acadêmicos e em tantas outras formas discriminatórias.

Neste diapasão, concluímos que apesar de significativos avanços socialmente falando com relação às políticas públicas afro-brasileiras, em face de nossa luta permanente, desde os tempos de Quilombos – é preciso avançar ainda mais – pelo fim de todas as formas de discriminações raciais – visando a efetivação das políticas sociais para a promoção da igualdade com negros e negras conscientes do seu papel transformador.