Artigo

Jorge e Pedro Archanjo

Sempre gostei de Jorge, afinal Amado ele é. Seus cenários, personagens, tramas, tem um lirismo, uma musicalidade, uma explosão de cultura, de rostos, de povos, de sua labuta, que me cativam elevam minha alma, fazem-me entender e ainda mais amar a Bahia.

Além disso, um escritor cultuado por gênios como Vargas Lhosa, Gabriel Garcia Márquez, José Saramago dentre tantos nomes sagrado da literatura mundial, tem que ter alguma coisa boa.

Em todos os romances de Amado, o Jorge, seus personagens tem um que de fantásticos sendo possível ver ali seres de outro mundo, sublimes.

Mas não como Pedro Archanjo. O personagem de Tendas dos Milagres é simples, negro, pobre, capoeirista, culto, de uma intrepidez e sensualidade ímpares.

Muito semelhante a outros do autor. No entanto, ele é humano, em demasia, com uma profundidade e singela que invade a alma do leitor e faz com ele partilhe de suas lutas, esperanças, desilusões (poucas) e sorriso.

Não há como negar, a simplicidade, o estar sempre atento aos outros, sua devoção às mulheres, às crianças. Seu apego e esforço para formar um de seus filhos (que jamais soube que ele era seu pai). Sua abnegação quando, já formado, casado, rico e morando no Rio, este, ao visitá-lo quase nada teve que dizer, ficou minutos ali onde sempre vivera e foi embora. Há muito vivia e pertencia em outro mundo. Tudo isto ele entendeu.

Pedro Archanjo, sujeito simples, humano por demais. Morreu na pobreza, doente, sem mais poder escrever os livros que o tornariam, anos depois de sua morte, uma referência mundial no estudo sobre a cultura. Quando de sua morte foi aclamado por aqueles com quem sempre conviveu: trabalhadores, mulheres da vida, adeptos do candomblé, católicos, gente simples, como ele assim.

Pedro Archanjo, de tantos personagens do imortal Jorge Amado és o mais humano, o mais belo e, por isso mesmo, o mais amado e admirado por ele e por mim. Descanse em paz.