Artigo

Os heróis, as olimpíadas e os deserdados

Estamos quase chegando a 2010 e o pior parece já ter passado. Resta-nos apenas segurar a respiração enquanto mudamos de ano e já estará aí a redenção. Depois, em dois ou três saltos chega-se à Copa do Mundo e depois dela, a Olimpíada e assim, este país de 190 milhões, e em quatro ou cinco, de 200 milhões, estará transmitindo sua maior mensagem à toda a Terra: integração, amizade, nenhum preconceito. Estarei escrevendo sobre uma utopia? Sim, mas um sonho digno de ser perseguido.

Veremos então que é possível acreditar no imenso poder de realização deste povo mestiço de velhas castas européias, negros, amarelos, e todas as colorações resultantes da imensa mistura que veste a camisa verde-amarela. Povos europeus de memória curta, poderão se lembrar que seus excedentes populacionais, para usar uma expressão pelo menos “delicada”, foram recebidos aqui e ajudaram a construir o gigante em que todos vivemos. Mas, será preciso não esquecer, por exemplo, que, ao derrubarem as árvores, enriqueceram com o desfrute de um bem que deveria ser coletivo. Também não se pode desprezar a idéia de que os contingentes populacionais de pele negra contribuíram com a mão de obra gratuita, em muitos casos, para edificar esta grande nação, e que os índios, não eram preguiçosos, como rezavam as antigas súmulas escolares, mas rebeldes porque prezavam sua liberdade.

Quando lembrarmos de tudo isso, poderemos curtir mais e melhor a grandeza que está chegando, sem remorsos, vinganças, revanches, retaliações. O que, aliás, é também uma questão de grandeza. E essa, parece, veremos nos próximos anos, parece que temos também.
E então, poderemos festejar todas as conquista as, lembrar e celebrar igualmente Adonias Filho, telmo Padilha, Jorge Amado ou Pedro Álvares Cabral; Princesa Isabel, Dom Pedro-I ou Tiradentes, Zumbi ou Getúlio… e não apenas os atletas olímpicos que se transformarão em personalidades nacionais. E nunca lamentarmos que quase todos os recursos financeiros governamentais, que deveriam servir para estimular os desportos nos mais de 5 mil, serviram apenas para o Rio de Janeiro medalhar os heróis norte-americanos, asiáticos, europeus… e alguns pouquíssimos compatriotas, entre milhões de brasileiros famintos e deserdados.