Artigo

Papai Noel e políticos honestos existem?

Quando a gente pensa que já viu tudo na política, sempre aparece mais alguma coisa para ser vista. Quando se acha que chegamos ao limite do lamaçal, aparece ainda mais lama.

As cenas do governador de Brasília, José Roberto Arruada, do DEM, recebendo dinheiro desviado dos cofres públicos são uma daquelas coisas que causam asco.

Nas imagens, Arruda recebe um pacote de notas que somam cerca de 100 mil reais. Gato escaldado, diz ao homem que lhe entregara o dinheiro que era melhor que o pacote fosse entregue em outro local.

Sabe como é, alguém poderia estranhar vê-lo saindo com aquele embrulho e…
Depois, escaldado, mas faminto, pede que o assessor arrume uma sacola de compras para colocar o dinheiro.

Gatuno, chega a se afundar no sofá, enquanto espera a sacola providencial, que segundos depois a imagem flagra sendo discretamente levada por outro assessor.

Pronto, ninguém vai estranhar mais nada, afinal trata-se de um assessor anônimo saindo com uma inocente sacola.

O “filme” em questão é apenas a ponta do iceberg do mais recente -e com certeza não o último- escândalo da política brasileira.

O esquema envolve desvio de dinheiro para campanhas eleitorais, pagamento de propina em troca de apoio político e enriquecimento ilícito. Além de, no caso de Brasília, chantagem com as gravações feitas sem que os envolvidos soubessem que estavam sendo filmados.

Embora muitos deles sorriam, com a cara de pau peculiar dos salteadores dos cofres público. Já tivemos o mensalão do PT, o mensalão do PSDB e agora temos o mensalão do DEM, sinal de que a corrupção que parece entranhada no sistema político não respeita matiz partidária.

É um mal crônico e incurável, que gera como subproduto perverso milhões de pessoas sem acesso aos serviços básicos e projetos de inclusão, porque o dinheiro escorre farto pelo ralo insaciável do propinoduto.

Um mal agravado por outro subproduto, que atende pelo nome de impunidade.
Passado o estupor geral, surgido outro escândalo, cessados os holofotes, tudo termina sem que ninguém seja punido.

E a vida segue no país do dinheiro na cueca, do dinheiro nas meias, do dinheiro na caixa de sapatos, do dinheiro na sacola de compras, do dinheiro invisível a engordar contas secretas para gerar mansões, carrões e vidas luxuosas; enquanto o povaréu se equilibra no salário curto e suado para pagar as contas.

Tem mais: na impossibilidade de brigar com as imagens, impera a mais deslavada sem-vergonhice para explicar o inexplicável.

Não é que José Roberto Arruda saiu-se com a explicação de que o dinheiro colocado na sacola seria destinado para a compra de panetones e cestas de Natal para famílias carentes!

Enfim, o sujeito querendo bancar o Papai Noel dos pobres e essa gente maldosa achando que ele é um corrupto. Que ignomínia!

Blague à parte há de se convir: é mais fácil acreditar em Papai Noel do que em político honesto.