Artigo

O frio que vem de dentro

Esta semana recebi de uma amiga querida um e.mail muito lindo com o mesmo título deste artigo. Ele conta a estória de alguns homens que ficaram presos numa caverna em função de uma forte nevasca e que só poderiam ser socorridos no dia seguinte. Assim, deveriam conservar acesa a chama de uma fogueira com a qual procuravam se aquecer.

Cada um dispunha de um punhado de lenha para tanto, mas curiosamente, cada qual com o seu motivo, deixou de colocar a sua lenha na fogueira e o fogo veio a se apagar, fazendo com que morressem congelados. No dia seguinte, quando o socorro chegou, encontraram os cadáveres com feixes de lenha nas mãos. Um dos socorristas balançando a cabeça disse: esses homens não morreram pelo frio aqui de fora; foi pelo frio que vem de dentro que morreram.

Essa estória bastante significativa e verdadeira me fez refletir sobre a forma como escolhemos partilhar ou não aquilo que possuímos. Vários são os motivos que levam as pessoas a desejarem conservar consigo tudo aquilo que poderiam e/ou deveriam dividir.

Tais pensamentos me fizeram lembrar outra estória que se passou com Ana e João, mas poderia ter acontecido com qualquer um de nós. Fazia anos que eram amigos e desfrutavam dos mesmos interesses. Ambos eram trabalhadores, honestos, crentes e possuíam boa condição financeira. Suas famílias eram diferentes, porém com os mesmos princípios. Ana contribuía mensalmente com o dízimo junto à sua igreja.

João, embora frequentasse o mesmo local, não colocava sequer uma moeda na cestinha de ofertas. Ana procurava ser atenciosa e prestativa com todos à sua volta, auxiliando sempre que possível, ouvindo uma queixa ou incentivando uma decisão necessária. João trabalhava o dia todo e não tinha como ajudar quem quer que fosse, pois suas obrigações o ocupavam por completo.

Regularmente, Ana limpava seus armários, separando roupas e calçados que ainda estavam em bom estado e poderiam ser doados para pessoas carentes. João vivia correndo e não tinha tempo para limpar os armários abarrotados de coisas que há muito não eram utilizadas e se estragavam pelo tempo de guardadas.

Não resta dúvida que João e Ana continuavam sendo boas pessoas, no entanto, a preocupação de Ana com o próximo fazia com que tivesse um olhar diferenciado para tudo aquilo que poderia ser compartilhado, enquanto que para João, essa preocupação simplesmente não existia e ele deixava de contribuir para melhorar o mundo à sua volta.

Em qual personagem será que nos encaixamos? Somos Ana ou João? Estamos abertos às necessidades do próximo ou preocupados apenas com as nossas próprias necessidades?

O mundo fica frio quando estamos mais interessados em acumular do que em compartilhar. Nossa fogueira pode se apagar a qualquer momento, e estaremos todos condenados a morrer congelados pelo frio que vem de dentro. Não deixemos que isso aconteça. Vamos juntar nossos gravetos e alimentar a fogueira que nos aquece, que é o verdadeiro AMOR!