Artigo

A arte de ontem e hoje

O filósofo estagirita estava equivocado quando aconselhou no seu A Poética que não se misturassem os gêneros (Épico, Lírico e Dramático). Talvez se ele vivesse no século XXI não falaria tal coisa, pois parece que a Arte não sobreviveria nos dias hodiernos se não fossem o hibridismo, a mistura, a colagem, como sua manifestação legítima.

A bem da verdade, Aristóteles (384-322 a.C.) não poderia profetizar o que viria a ser o caldeirão da pós-modernidade, ele mesmo que salvou muitas vezes os artistas da sua época do limbo profissional em que se encontravam.

Se for feito um apanhado histórico das estéticas dominantes do mundo, desde a Idade Média até o século XXI, podese perceber que uma escola dominante sempre era completada (e mais ou menos refutada) com elementos que fossem além do que a anterior: uma dando sentido diverso, não no sentido de anulação, mas no entendimento de superação.

O Classicismo, por exemplo, a chamada arte da renascença ou renascentista, era uma volta ao clássico grego, à antiguidade. Bebia-se das instruções gregas para que se fossem contempladas as “novas” esferas da arte de então: cores, altura, tons, movimentos, escrita que rememorassem aquela civilização como o ideal a alcançar.

E todas as que se seguiram, a que o vulgo se acostumou a chamar de Barroco, Arcadismo, Romantismo, Realismo/Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo e Arte Moderna (Cubismo, Abstracionismo, Expressionismo, etc.) não foram senão a tentativa de ultrapassar os limites da anterior, adaptando-se aos novos tempos.

No entanto, até a chegada Arte Moderna, parecia que cada coisa estava em seu devido lugar, cada gaveta arrumada com seus conceitos e regras plácidas, inclusive a filosofia. No final do século XIX e início do XX, a coisa muda de figura.

Nietzsche bagunça as teorias filosóficas; Rimbaud, Baudelaire, James Joyce e tantos outros escancaram as portas da nova literatura; Picasso e Van Gogh misturam os tons; Rodin metamorfoseia a expressão humana; enfim, Oswald, Mário, Tarsila e milhares de vanguardistas inauguram a antropofagia no Brasil, deglutindo tudo o que vinha de fora em termos de arte e vomitando a nova estética que dominaria até os dias atuais nas terras tupiniquins.

Frente a isso, surge o grande impasse que é o fato de muitas pessoas tentarem enquadrar certos artistas, em rótulos que servem para acalmar a confusão mental dos neófitos: como caracterizar um Marcelo D2, cantor de hip hop, sambista, poeta? E Maria Bethânia, uma intérprete ou uma condoreira? Clarice Lispector é romancista ou dramaturga, poeta ou psicóloga?

E Nelson Rodrigues era jornalista ou escritor, romancista ou dramaturgo? Difícil dizer. O bom é que hoje se pode olhar para trás e ver uma longa estrada percorrida, muitas vezes sinuosa e lamacenta, mas trilhada por mentes soberbas, que se fizeram luzeiros da humanidade.

Porém, há muito ainda a conquistar, a descobrir, a descortinar, visto que o cérebro humano é inesgotável, a criatividade e os momentos de crises (sejam estes individuais ou coletivos) são instantes superiores que na maioria das vezes geram fertilidade artística!