Artigo

Comoção Coletiva. Anatomia da Corrupção.

Um artigo com título duplo, dois temas que em determinado momento se cruzam mediante grandes catástrofes. Lembro-me quando, ainda locutor da Morena FM, em pleno lançamento do projeto Jupará, a morte de Hilário Lima que abrilhantava o CD Jupará com uma de suas músicas, impulsionou o projeto que veio a se tornar o maior evento cultural musical do Interior da Bahia. Quando criou o projeto, Marcel Leal tinha a certeza do sucesso do Troféu Jupará, mas em hipótese alguma imaginou a dimensão que viria a atingir. É inevitável não correlacionar a incrível aceitação popular do projeto com a morte de Hilário. A música dele acabou se tornando um hino, a mais pedida na Rádio, recordes de CDs vendidos, Shows lotados.

Com desabamento do morro do Bumba no Rio de Janeiro, passamos por essa mesma comoção coletiva. Nesse caso em peculiar, a catástrofe, me faz lembrar uma pesquisa chamada anatomia da corrupção. Explico: dois cientistas, um holandês e um americano (americano adora pesquisa) descobriram que existe um elo entre o poder e a corrupção. O que era desconfiança, agora se tornou científico, isso explica tudo – o cara começa como líder de bairro e ou estudantil e, ao assumir um determinado poder, muda de comportamento – começa a ser seduzido pelo fato de se sentir acima da lei moral e judicial, é um mundo novo, e vale tanto para o político como para o juiz, o promotor… É o que os psicólogos chamam de “moralismo na razão e imoralidade na conduta”. Entre outras palavras, o poder nos deixa hipócrita, somos rígidos com os outros e lenientes consigo mesmo.

Caro leitor, se ainda não conseguiu perceber, esse é o ponto chave da questão entre a verdade nua e crua e a miopia social que nos atinge. A pesquisa mostra principalmente que: quando os poderosos são lenientes consigo mesmos, a outra ponta – nós – os “honestos”, não ofendendo a todos, vivemos uma proporção inversa do comportamento moral, cobramos mais de nós mesmos, não nos apropriamos de nada que não seja nosso e, em muitos casos, desenvolvemos trabalhos sociais sem pedir nada em troca. Quando você projeta os dois comportamentos, do poderoso e dom homem simples, percebe que a desigualdade social só faz aumentar. O não poderoso é simples e se acha incapaz de criticar ou tentar coibir os poderosos, os poderosos se acham acima da justiça divina, até!

Agora vamos ao objetivo principal desse artigo: será que eu, você, a nação brasileira, só vai se comover e aprender a agir contra os poderosos hipócritas, se grandes catástrofes acontecerem? Será que podemos mesmo criticar os políticos; juízes; promotores; policias “corruptos”? Estamos desempenhando, direito, o nosso papel? Atire a primeira pedra quem nunca ligou para um conhecido para se livrar de uma multa ou furar uma fila. Quando era pequeno, peguei um lápis de um coleguinha, ao chegar em casa, meus pais me fizeram devolver. Exatamente por acharem que os pequenos delitos levam aos grandes. Hoje, os pais ajudam os filhos em brigas escolares e até espancam professores. Assim fica difícil acreditar que estamos no caminho da civilização organizada e pacificadora. Uma idéia?

Participem de políticas públicas através dos Conselhos Municipais, eles são a prova de que o poder está em nossas mãos, só precisamos saber usar.