Artigo

A vida no aquém e no além

Em um país distante, chamado Utopia, foi fundada há muito tempo uma colônia de pessoas honestas e trabalhadoras.

Nesse lugar todos se conhecem pelo nome, tratam-se com igualdade e respeito até os dias de hoje. Há quem acredite que tal condição é impossível de se ter, mas não lá. Tudo o que existe foi construção de uma sabedoria ancestral de jamais agredir o outro, sempre fazer o bem, independente de quem for, e a própria vida se encarregaria de passar sem dissabores.

A cidade era cortada por um rio de águas límpidas, somente maculadas pelo barulho e brincadeiras dos meninos ou meninas que se deliciavam nas suas margens calmas. Havia árvores ornamentais e frutíferas em todos os caminhos, de sorte que aquela região mais parecia um mar esverdeado, de tão belo.

Por lá, não existiam miséria, fome e doenças. Todos moravam em casas boas, decentes; o saneamento era obrigatório e tratado na estação devida; a moeda de troca era outra, bem diferente da usual que os humanos estão acostumados. Para começo de conversa, o dinheiro foi abolido dessa localidade. Da para imaginar? Os moradores entraram em um acordo tácito de que todos trabalhariam e que tudo estaria disponível para quem assim agisse.

Aqueles que tivessem pendores para o ensino foram educar as crianças; quem tivesse o dom da agricultura iria se responsabilizar pelo cultivo dos alimentos para consumo (frutas, legumes, verduras e tubérculos); quem gostasse de animais (só era correto ali comer aves e peixes, mas o bom senso preponderava) iria criá-los; quem fosse dado aos trabalhos braçais iria para as fábricas e indústrias não-poluentes, e assim por diante.

O mais interessante, no entanto, eram os postos de comando do vilarejo. Lá não havia eleição, muito menos cargos políticos remunerados. Aliás, nada, como já foi dito, tinha por base o capital. E não podia ser diferente com aqueles que tivessem na alma o merecimento para cuidar da cidadela, zelar pelo seu avanço e pela sua harmonia. É isso mesmo: os administradores locais eram elevados a esse patamar de acordo com o seu avanço moral e intelectual, medidos pelas suas obras (e não pelas suas palavras), pelo seu trabalho caritativo, assistencial, pela sua disponibilidade e pela sua grandeza espiritual.

Acaso pode haver “cabos eleitorais” mais verdadeiros?
O esporte que era praticado naquelas cercanias era qualquer um que produzisse a felicidade e a existência pacífica. Havia um consenso de que a atividade física teria que ser, inicialmente, a limpeza da mente, a pureza dos pensamentos e, de quebra, o corpo físico resplandeceria.
E era real. Todos cultivavam a boa palestra, a boa conversação, a fraternidade universal. Por conseqüência, todos eram saudabilíssimos. E não é que a fama daquele paraíso chegou a outros rincões do planeta?! Todos queriam conhecer, visitar e, o melhor, copiar o modo de vida que dava tão certo. Assim, aquele pedacinho de chão, quase na curva do mundo, foi transformado em modelo universal da convivência, da civilização e dos bons costumes. E seu nome não podia ser outro senão Colônia da Esperança.