Artigo

Faculdade de Direito

Da Universidade Federal da Bahia. Gloriosa Faculdade de Direito, como era comum alguns universitários dizerem, voz cheia e expressão feliz que o rosto deixava transparecer. No percurso que eu fiz na Faculdade de Direito, de 1958 a 1962, recordo a maneira de ser dos mestres nas aulas, a regularidade, a precisão e a ordem daqueles homens de vasto saber.

Diante de mim, nesse instante, a paixão de Adalício Nogueira pelo Direito Romano. A exposição exemplar que Nelson Sampaio fez sobre a desumanização da Política ao longo dos séculos. A visão ampla e moderna de Machado Neto em torno da consideração do direito concebido como norma por Kelsen, o jurista austríaco. A graça do professor Machadinho, o tetracatedrático, baixinho e gordo. Dizia em voz sonante, antes de iniciar a aula, que os alunos ficassem mais atentos, com os seus ensinamentos as paredes iriam tremer.

Lembro a eloqüência de Josafá Marinho em suas lições de Direito Constitucional, a maneira encantatória das aulas de Direito Penal ministradas por Aloysio de Carvalho Filho, substituída depois pela veemência de Raul Chaves. A eficiência de Elson Gottschak para demonstrar o lado pragmático do Direito do Trabalho. O jeito elegante, a dicção objetiva, o poder de síntese e densidade com que o mestre Orlando Gomes transmitia, sem esforço, aulas admiráveis de Direito Civil.

Com esses e outros mestres, a razão do moço que veio do interior passou a saber que o Direito é uma das maiores conquistas do ser humano neste planeta. Sem essa hora não existe o homem real, mas o regresso na escala biológica. Não há coexistência, a paz, meta maior nesse tão difícil gesto do viver.

Faculdade de Direito de minha adolescência. Dos jovens de ontem, da Capital ou vindos do interior, alguns deles bem nascidos. A minha turma da Faculdade de Direito era também a de Antônio Luís Calmon Teixeira, o civilista, Marcelo Gomes, o empresário, Adalberto Carvalho, o cracão de bola, João Berbert, o cientista social, Dylson Dórea, o jurista, Artur Caria, o juiz, Raul Ferraz, o deputado, Lucy Lopes Moreira, a desembargadora, Ildásio Tavares, o poeta, João Ubaldo Ribeiro, o romancista, e Edivaldo Brito, o orador.

No rigor de atitude que comanda, o tempo passa e não perdoa. Sabe todos os caminhos, a claridade do dia e o manto da noite. Deixa-me sem resposta, se pergunto por essas vozes, risos, expectativas, desafios, emoções que passam por meus olhos agora como sombras de uma paisagem precária. Por que tão depressa lá se foram esses gestos na curva da estrada? Ninguém pode me dizer algo sobre esse instante em que só tenho ouvidos para escutar o rumor daquelas vozes. Ninguém decifra como dói saber que a recordação de certas imagens nada mais é do que saudade de certos instantes. E as pessoas, objetos, bichos, casas, ruas são fugidios. Como os dias, semanas e meses. Infelizmente.