Artigo

Filho dá trabalho

Dias atrás fui procurada por uma avó preocupada com o seu neto recém nascido. A filha adolescente havia engravidado e tido o bebê há pouco tempo. Ela e seu companheiro, bem mais velho, estavam encontrando dificuldades para cuidar da criança e se descontrolavam, impacientes, diante do choro do pequenino durante a noite.

A avó que tudo acompanhava “de orelhada” em seu quarto (todos moram na mesma casa), estava inconformada com a forma como seu netinho vinha sendo tratado pelos pais, aos sacolejos. Tal situação é corriqueira e se repete em inúmeros lares, principalmente porque as pessoas imaginam que é muito fácil cuidar de crianças, e que irão se desincumbir de tal tarefa com naturalidade. Infelizmente, não é isso que acontece na prática, ainda mais atualmente, época em que se está mais preocupado em receber do que em dar.

Antes de tudo é preciso que se tenha consciência que filho dá trabalho, e bastante. Isso não quer dizer que deixem de existir as compensações.

Todavia, não há porque mascarar uma realidade. Filho dá trabalho e ponto. Muitas mulheres, principalmente as de meia idade ou mais, podem se insurgir quanto a essa minha afirmação, alegando que no seu tempo não era assim. Eu concordo, não era mesmo. Antigamente, as mulheres eram preparadas para o exercício da maternidade, hoje não. As mulheres modernas possuem outras prioridades, principalmente o exercício profissional, e acabam não dando muita atenção à necessária organização que o nascimento de uma criança requer. Pensam que em qualquer meia horinha podem levar a termo os desafios da criação e educação dos filhos.

Ledo engano. O despreparo com que nossos jovens estão encarando a maternidade e a paternidade faz com que tenhamos pena de seus filhos, sempre relegados a um segundo plano. Para muitos pais o filho é sinônimo de estorvo, no sentido em que serve como impedimento e obstáculo para o desfrute de momentos aprazíveis junto aos amigos ou na prática de atividades esportivas e sociais.

Todo mundo quer desfilar com seu pequeno bebê de vez em quando, mas poucos desejam investir na educação do mesmo se isso implicar na redução de suas horas de sono e lazer. Sem dúvida, estamos diante de um grande problema.

No tocante a esse ponto, confesso que radicalizei, e nas minhas palestras para noivos e namorados tenho orientado os casais a só terem filhos quando estiverem preparados para a renúncia, e dispostos a investir sua afeição e seu tempo nesse projeto familiar. Enquanto quiserem apenas brincar de casinha, viver a sexualidade com a intensidade que o casamento propicia, ou aprofundar o conhecimento mútuo, é melhor que adiem a idéia da concepção, pois um filho pode trazer consequências desastrosas para os casais imaturos, egoístas ou despreparados. Família é doação! Termino este texto lembrando aos casais que a relação sexual além de expressar o amor entre os cônjuges possibilita a reprodução humana, assim, cabe a reflexão: queremos de fato ser pais ou apenas dormir juntos? Respondendo sinceramente a esta questão muitos jovens poderão se preparar melhor para o exercício da maternidade e da paternidade responsável, evitando decepções e dissabores.