Artigo

Um livro por um sorriso

Esta foi uma semana de trabalho duro. Muitos atendimentos, a maioria deles de pessoas viciadas em drogas. Internações, entrevistas com familiares dispostos a assumir a guarda das crianças daqueles que estão buscando tratamento, orientações a pais estarrecidos com a mudança comportamental, agressividade e promiscuidade de seus filhos, enfim, tudo o que faz parte dos bastidores moral e emocional do uso de entorpecentes.

Os casos são tantos, mas confesso que um me sensibilizou mais. Marido e mulher, ambos usuários de crack, com dez anos de convívio e dois filhos pequenos, fizeram a entrega de um bebê recém nascido para a adoção.

O pai ria dizendo que não tinha condições de criar mais um e brincava afirmando que se a situação melhorasse, futuramente voltaria para adotar uma criança no lugar daquela que estava entregando.

Tudo lhe parecia muito engraçado. Uma família destruída pelo crack. O bebê sendo entregue como se fosse um produto qualquer. Confesso que tive uma comoção tão grande que senti minha alma doer. Meu Deus; salva a todos nós! Estamos cegos, pensei.

Não temos noção de quão fundo é o poço escuro da droga. Nossas famílias estão sendo incineradas, fumadas, cheiradas. Nossas famílias estão virando pedra e pó.

Perdão Senhor!
Nesta mesma semana, meu amigo virtual, Francisco Fernandes de Araújo, juiz aposentado e escritor, brindou-me com um vídeo de sua campanha: Um livro por um sorriso! É o terceiro ano consecutive que ele sai às ruas de Campinas (SP) e presenteia as pessoas com um exemplar de seus inúmeros livros publicados pedindo em troca apenas um sorriso. Entrevistado, ele afirmou que as pessoas têm o direito de sonhar, e que isso ninguém pode lhes roubar.

É verdade meu amigo. Nunca precisamos tanto sonhar como hoje em dia. Em nome de todos os que gratuitamente receberam seus livros, pedacinhos de seu grandioso sonho de fraternidade, eu agradeço.

Agradeço pela sua disposição em acreditar que pequenas ações podem trazer grandes resultados.

Agradeço pela sua ação em prol do bem contrastando com a omissão de tanta gente. Agradeço porque enquanto uns dão drogas aos nossos filhos, alguém lhes oferece um livro, incentivando-os a sonhar, buscar altos ideais, ter compaixão em relação ao próximo. Isso tem um valor incalculável, e só Deus pode mensurar a importância de uma atitude tão amorosa.

Dia a dia se morre e se mata por causa das drogas, e vários são os fatores que contribuem para o seu uso crescente, mas prefiro deixar que reflitam sobre o assunto.

Para aqueles que ficaram preocupados com o bebê, sosseguem, pois ele está muito bem amparado junto de um casal que há anos ansiava por um filho. Quanto aos pais biológicos da criança, fiquei imaginando se lhes teria feito diferença serem presenteados com um livro ao invés de com algumas pedras de crack. Eu acredito que sim. E gosto de pensar assim, pois como disse meu amigo Francisco, sonhar é um direito de todos e ninguém tem o direito de me roubar isso. Parabéns, amigo, você iluminou a minha semana!