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Eleições e coisas assim

Após a vitória esmagadora de Jacques Wagner para governador da Bahia, seus dois senadores, a conquista da maioria dos candidatos apoiados pelo presidente Lula e a ida ao segundo turno de Dilma venho apontar algumas coisas que atentei durantes esses dias de campanha, e mesmo antes.
Comecemos: Da medíocre Veja destaco aqui algumas reportagens:
a) necessidade de que houvesse a mudança de partido na presidência da República, pois isso seria prova de uma verdadeira democracia; b) três capas com um polvo – em alusão direta ao partido que ora governa (sempre de forma depreciativa, claro);
c) requentamento de uma matéria veiculada ano passado pelo SBT sobre a venda de sigilos fiscais de qualquer pessoa no Brasil. À época, o então governador de São Paulo – José Serra –dizia de modo bem humorado, que ele sabia sim que seu sigilo, de sua filha e família havia sido quebrado; d) relembro também capas de mais de dez anos atrás, quando outro era o partido no poder, em duas vezes, no período natalino a Veja destacou o natal mais próspero de todos os tempos, sendo que na segunda vez o país já começava a enfrentar a crise que iria quebrá-lo em 2000 (em ambos os casos o ano posterior seria de eleição).

Outro item que me chamou a atenção foram e-mails enviados em que se denunciavam várias irregularidades do atual governo, em especial seu apoio a movimentos populares, com destaque para o MST, taxado como grupo de bandidos ou Hugo Chávez, presidente eleito de um país vizinho, apontado como ditador em pleno desrespeito à formação de movimentos sociais e a autonomia de países soberanos.

Por fim, vários e-mails e reportagens sobre Dilma, seu passado como guerrilheira, sua total ausência de experiência, sua pouca feminilidade.

Em relação a Veja o que dizer de uma revista que tenta a todo instante se dizer imparcial, mas tem um discurso que é totalmente favorável ao PSDB? É nesse ponto que o president Lula tem salientado que alguns órgãos da imprensa deveriam dizer que tem claramente uma opção de poder. A Veja tem sempre feito um discurso em que apresenta os tucanos como impolutos e os demais como despreparados. No caso mesmo em que falam como seria bom que o novo presidente não fosse do PT, eles não parecem se importar nem um pouco com o fato de há 20 anos São Paulo ser governado pelo PSDB.

Ora, se é para o bem da democracia, que São Paulo, e os tucanos, seja o primeiro a mudar. Os demais pontos, acredito, o próprio eleitor já tenha percebido os equívocos, afinal o discurso que tentaram plantar não criou raízes.

Em relação aos e-mails a maioria eram todos com um tipo de discurso muito parecido com os que antecederam o Golpe de 64. Para quem não lembra, instaurou-se a partir daí uma ditadura militar que durou 21 anos. Matou, torturou e endividou o país por muito tempo, só no governo de Lula nos livramos das dívidas dessa época. Estarrece-me hoje ver pessoas inteligentes, lendo, acreditando e reenviando esse tipo de material. Sobre Dilma, li um artigo de Ferreira Gullar em que este dizia que não devíamos votar em Dilma por que ela era despreparada e “não tem nada a mostrar”. Legal, mas o que dizer de FHC? Tinha ele algo a mostrar, em termos de administração pública? Não! Jamais havia governado e ainda sim, com todos os porém, foi um governante que deu uma boa contribuição ao país. E o que dizer de tantos prefeitos, governadores e homens públicos que, jamais tendo administrado nada, tornaram-se exemplos de boa administração. Não é a toa que um dos sites que veicula o texto do Goulart seja vinculado ao grupo que ainda hoje admira o Golpe de 64.

Logo após o pleito do dia 3 duas coisas curiosas aconteceram na Globo: em primeiro lugar a Globonews noticiou a fala de Serra, em que este agradecia pelos votos. Após o final de sua apresentação o programa retornou ao estúdio e dois comentaristas salientaram que ele não havia agradecido a Marina, tal qual fizera Dilma. Após uns dez minutos o apresentador disse que Serra não havia acabado seu discurso (coisa que já tinha feito) e retornou. Dessa vez ele tecia elogios a candidata do PV.

Na segunda-feira, o Bom Dia Brasil abria seu noticiário com a declaração de que Serra havia “parabenizado Marina”.

Segundo: Jornal Nacional do dia 04: Bonner e Fátima Bernades iniciam o primeiro bloco do telejornal falando da vitória do PSDB em Minas e São Paulo, os candidatos aparecem alegres e sorridentes. Um bloco inteiro falando de Aécio e Geraldo com Serra aparecendo ao lado deles.

O segundo bloco foi dedicado a vitória do PSB. Somente no terceiro falou- se do PT. Interessante observar que desde domingo os analistas de outras redes salientaram o jogo político efetuado por Lula que derrotou figuras notórias do poder nacional, como: Tasso Jereissati, César Maia, César Borges, Arthur Virgílio, Heráclito Fortes, Heloísa Helena, dentre outros. Eles foram adversários do presidente, e de seu projeto para o Brasil, tendo sido esmagados pela força e influência de um dos mais importantes presidentes do país. A essa força nem um aceno da Globo, ou de seu mais importante Jornal fato que demonstra quais interesses eles defendem. Quando falarem será para dizer que caminhamos para um “ditadura civil”, num claro aceno golpista.

Espero sinceramente que Dilma vença. O clima de terror e os golpes dissimulados não terão a força de um projeto melhor para o país. Para finalizar gostaria de salientar que nenhum candidato até agora mostrou nada de seu projeto de governo. Ataques pessoais e um discurso sem nenhum vínculo com projetos de partido ou de ideologia dominaram até aqui.